terça-feira, março 27, 2007

Dia Mundial do Teatro


O Dia Mundial do Teatro comemora-se um pouco por todo o país. São várias as iniciativas que hoje têm lugar: sessões únicas, entradas gratuitas, etc.
Aqui mais perto de mim, em Almada, no Teatro Municipal, podem assistir a duas peças, gratuitamente, às 21h30. Na sala principal, está em cena O Carteiro de Neruda, de Antonio Skármeta, com encenação de Joaquim Benite. Na sala experimental, podem assistir à peça Quarto Minguante, texto de estreia de Rodrigo Francisco, também com encenação de Joaquim Benite.

Para aqueles que não possam ir hoje ao teatro, ficam algumas sugestões de leitura.

Goethe, Torquato Tasso, tradução de João Barrento, Relógio D´Água.

Torquato Tasso é então o drama do demoníaco puramente poético, é o drama da tensão do ouvido que escuta e corre e sucumbe e retorna ao canto. É aqui que o lirismo alcança a sua mortificação incandescente, trespassado pela exigência de se transformar na terceira pessoa, naquele que, só aceitando o intervalo intransponível, poderá dizer eu, e ser ouvido na distância. No Tasso a metamorfose poética desenrola-se diante de nós, revela as suas leis.

Do prefácio de Maria Filomena Molder.




Anton Tchékhov, Três Irmãs, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, Assírio & Alvim.


IRINA Diz que a vida é maravilhosa. Sim, pode ser, mas pode só também parecer! A nossa vida, a das três irmãs, ainda nunca foi maravilhosa, tem-nos abafado como erva daninha...

I Acto, p. 49.



T. S. Eliot, The Cocktail Party, Faber and Faber.

LAVINIA
(...)
I don't know why. But it seems to me that yesterday
I started some machine, that goes on working,
And I cannot stop it; no, it's not like a machine —
Or if it's a machine, someone else is running it.
But who? Somebody is always interfering...
I don't feel free... and yet I started it...

I Acto, cena 3, p. 89.


Mário Cesariny, «Um Auto para Jerusalém», in Nobilíssima Visão, Assírio & Alvim.

Enfim, quando as coisas não vão pelo caminho dos nossos desejos, o melhor que há a fazer é levar os nossos desejos pelo caminho que as coisas vão tomando. Parece.

p. 82


Teresa Rita Lopes, Esse Tal Alguém, Campo das Letras.

Apaixonei-me e gritei: "Quero esta paisagem!"
Explicou-me o senhor da Agência que não vendiam a paisagem sozinha, que era brinde para quem comprasse o andar. E disse o preço. E que o Banco emprestava por vinte e cinco anos. Fiz as contas a quantos teria quando acabasse de pagar a casa — e não gostei de me imaginar com essa idade toda. Depois fiz as contas ao que tinha que pagar por mês mas era o meu ordenado quase inteiro! Como não podia viver do ar, isto é, da brisa do Mar da Palha, pedi ao senhor da Agência:
— Mas venda-me só esta janela! É quanto me basta. Este cantinho aqui, para eu pôr a minha mesa de escrever e uma cadeira. É quanto me basta. Percebe?
Não percebeu. Não vendeu. Vendo bem, não me importei. Afinal o que é bom é sonhar com as coisas. Como com o tal alguém que não se tem. E quando se tem, esse tal alguém torna-se ninguém. Com as casas é o mesmo. Isto é, quando as casas nos têm, vão-se-nos as asas — e as casas já só servem para morar.

Entreacto 4, cena 5, p.52.



sábado, março 24, 2007

Encontro com escritores II (23.03.2007)




Depois da visita de M. Carolina Pereira Rosa, foi a vez de Alexandre Parafita falar com os alunos das duas escolas básicas do agrupamento Sebastião da Gama e assistir ao resultado do trabalho que as crianças desenvolveram à volta da sua obra literária.

Alunos de todos os anos encontraram diferentes maneiras de se apropriarem dos textos de Alexandre Parafita. Se houve alunos que encenaram histórias que tinham lido, outros preferiram preparar uma entrevista ao autor, e, na parte que me tocou, duas turmas dedicaram-se a musicar um poema presente num dos livros. Não podendo falar pelo escritor, ainda assim arrisco dizer que este tipo de retorno do complexo trabalho de escrever será recompensador para quem se dedica à literatura infantil.

Para as crianças, foi motivo de orgulho oferecerem a sua visão das histórias que leram e fiquei particularmente contente ao ver o grande número de meninos que foram ouvir Alexandre Parafita com os seus livros debaixo do braço. À semelhança do que aconteceu com a turma que musicou um poema de M. Carolina Pereira Rosa, também os alunos que iriam cantar o poema do livro Memórias de um Cavalinho de Pau me perguntavam, todas as semanas, assim que chegavam à sala, se iam ensaiar «a canção do cavalinho». O empenho com que os meus alunos e, tenho a certeza, os alunos dos outros professores, trabalharam foi a melhor prova de que o que falta às vezes não é capacidade, mas sim interesse. Num mundo em que as crianças têm tantas coisas diferentes a requisitarem a sua atenção e em que a curiosidade pela novidade é substituída com uma rapidez estonteante, é bom saber que o livro é capaz de motivá-las desta maneira. A forma activa com que participaram, com que deram opiniões, com que se preocupavam para que tudo corresse bem vem mostrar que o que é preciso não é obrigar os meninos a ler, mas sim colocar a literatura ao alcance dos seus olhos e ensinar-lhes que os livros não são só de quem os escreve, são também de quem os lê.

Para crescer por dentro, dizia Alexandre Parafita aos que o ouviam, é preciso ler. Esta foi a mensagem mais importante que o escritor deixou a fermentar nas cabeças dos meninos presentes. Nós crescemos sempre por fora, mas para crescermos também por dentro, para não ficarmos ocos e vazios temos que ler, temos que aprender, continuava Alexandre Parafita. Como não podia deixar de ser, o investigador dedicado à nossa Literatura Oral e Tradicional fez ver aos alunos presentes que a ouvir também se pode aprender muito. Há histórias que só quem nunca pôde ler um livro nos sabe contar. A memória, a de cada um e a colectiva, é um instrumento precioso para continuarmos a crescer juntos.
Um dos aspectos que mais me chamou a atenção no discurso do escritor, e pelo qual o congratulo, foi o facto de não ter falado às crianças com excesso de eufemismos, ao explicar-lhes, através de exemplos de pessoas com que se foi cruzando ao longo da sua vida de professor, a importância de nos irmos cultivando pela leitura. Muitos adultos criam a ilusão de que as crianças não vivem no mesmo mundo dos crescidos, que não vêem as mesmas coisas que nós vemos. É importante explicar-lhes que nem sempre a vida nos traz coisas boas. Do mesmo modo, é fundamental fazer com que compreendam que são elas próprias que, hoje, podem começar a preparar aquilo que todos os pais querem para os filhos, «um futuro melhor». É preciso ter vontade de crescer por dentro.





Obras de Alexandre Parafita:
(Por ser bastante extensa a bibliografia deste autor, deixo aqui apenas alguns títulos)

Literatura infantil:
Uma Andorinha no Alpendre, Livraria Civilização Editora, 1994.
A Lenda da Princesa Marroquina, Europress, 1995.
O Segredo do Vale das Fontes, Europress, 1996.
Chovia Ouro no Bosque, Porto Editora, 1996.
O Último Gaiteiro, Europress, 1997.
As Três Touquinhas Brancas, Plátano Editora, 2000.
Branca Flor, o Príncipe e o Demónio, Edições Asa, 2001.
A Mala Vazia e algumas histórias de tradição oral, Ambar, 2003.
Bruxas, Feiticeiras e suas maroteiras, Texto Editores, 2003.
Diabos, diabritos e outros mafarricos, Texto Editores, 2003.

O Conselheiro do Rei e outras histórias de tradição oral, Impala, 2004.
Contos de animais com manhas de gente, Ambar, 2005.
Histórias de Natal Contadas em Verso, Âncora Editora, 2005.

Histórias de Arte e Manhas, Texto Editores, 2005.
Histórias a Rimar para ler e brincar, Texto Editores, 2006.
Memórias de um Cavalinho de Pau, Texto Editores, 2006.


Ensaio e literatura:
A Comunicação e a Literatura Popular, Plátano Editora, 1999.
O Maravilhoso Popular, Plátano Editora, 2001.
Antologia de Contos Populares, vol. I, Plátano Editora, 2001.
Antologia de Contos Populares, vol. II, Plátano Editora, 2002.
A Mitologia dos Mouros, Edições Gailivro, 2006.


sexta-feira, março 23, 2007

Encontro com escritores I (20.03.2007)



Há uns tempos atrás, escrevi sobre o livro Memórias de um Cavalinho de Pau, de Alexandre Parafita. Referi, então, o contexto em que li o livro e o trabalho de leitura e de interpretação que estava a preparar, com os meus alunos de Educação Musical, à volta destas Memórias. Esta semana foi dedicada ao livro e à leitura e as escolas onde lecciono receberam a visita de Alexandre Parafita e da autora M. Carolina Pereira Rosa.

Em primeiro lugar, devo dizer, que esta semana foi absolutamente maravilhosa para quem se preocupa com a leitura em Portugal e para quem fica profundamente preocupado (e triste também) quando ouve uma criança dizer que não gosta de ler. Foi realmente animador ver tantas crianças abraçadas a livros, a folheá-los, a lê-los, a contarem com orgulho, os livros que tinham adquirido e em que ponto iam as leituras de cada um. Aliar a vinda de escritores à escola a uma reflexão mais aprofundada sobre as suas obras e à realização de uma feira do livro (à qual nem eu consegui resistir), onde os alunos puderam, sozinhos (de forma independente, portanto) escolher os livros que queriam ler, é uma ideia excelente, que, de facto, deu frutos.

O primeiro escritor a visitar-nos foi M. Carolina Pereira Rosa, na passada terça-feira. Autora de um número impressionante de manuais escolares dirigidos ao ensino básico, os seus livros dedicados aos mais pequenos são, tanto para as crianças como para adultos, encantadores. Certamente, quem, como eu, entrou para a escola nos anos 80 lembrar-se-á que aprendeu a ler com o livro Beija-Flor, de M. Carolina Pereira Rosa, sendo um dos seus manuais com mais sucesso nas nossas escolas.

Embora a literatura infantil seja uma aventura mais recente para M. Carolina Pereira Rosa, pelo menos se a compararmos com a publicação de manuais escolares assinados pela autora, iniciada por volta e 1985, é notório o profundo conhecimento do universo infantil demonstrado por esta professora. Apesar de não exercer já aquela que considera ainda ser a sua principal profissão, o seu afastamento das salas de aula não a fez perder a sensibilidade necessária para saber conversar com crianças. Uso a palavra «conversar» porque acho (e sublinho o uso do verbo achar, uma vez que nunca escrevi nenhum livro) que um dos segredos de escrever bem para crianças, de conseguir chegar até elas será entender a escrita como uma conversa. Se a criança ler o livro e não sentir que estão a falar com ela, se sentir que está a ler um monólogo, não se vai entusiasmar com a leitura.

Após a apresentação das encenações feitas pelos alunos a partir de episódios retirados dos livros Senhor Reizinho e João Brincalhão, a autora respondeu a algumas questões preparadas por uma das turmas. Através das respostas que foi dando às perguntas que lhe iam sendo colocadas sobre a sua actividade de escritora, descobrimos um pouco mais sobre a obra de M. Carolina Pereira Rosa e, igualmente, sobre o modo como a autora encara a escrita. Ficou claro que é com a humildade de quem escreve a sua primeira obra que esta escritora encara cada incursão na literatura infantil. Talvez seja este mais um segredo da escrita, tomar cada novo desafio como se fosse o primeiro, para não perder de vista o que se pretende fazer e onde se quer chegar.

Outro momento que importa destacar nesta conversa entre M. Carolina Pereira Rosa e os seus leitores diz respeito às ilustrações dos livros Senhor Reizinho e João Brincalhão. Responsável também pelas ilustrações destes volumes, a escritora explicou aos meninos como eram feitas as ilustrações, salientando que o seu método era simples e que dependia da criatividade de cada um. Ao explicar que todas as figuras utilizadas nas suas ilustrações eram feitas a partir de círculos de vários tamanhos, a autora mostrou às crianças que, com imaginação, é possível fazer o que se quiser.


Obras de M. Carolina Pereira Rosa:
João Brincalhão (2002)
Senhor Reizinho (2004)
Pimpona, a Galinha Tonta (2004)
O Segredo da Pimpona (2006)

Todos os livros foram publicados pelas Edições Nova Gaia.

quarta-feira, março 21, 2007

Poesia

Nunca aqui falei de poesia, nunca destaquei nenhum livro de poesia e, pensando bem, são poucos os livros de poesia que aparecem nas minhas leituras em progresso, muito embora agora esteja a ler Walt Whitman. A conclusão mais rápida a tirar será a de que não gosto de poesia. A verdade, no entanto, é que a conclusão acertada a retirar desta ausência será a conclusão mais rebuscada: gosto muito de poesia, leio muita poesia e, por isso, nunca falo dela. A verdade não é tão paradoxal como possa parecer. Não há muitas leituras de volumes de poesia destacadas porque eu não gosto de ler livros de poesia de forma sistemática, ou seja, eu salto de poema em poema e nem sempre dentro do mesmo livro. Um poema, ou um verso, podem fazer-me lembrar outro poema que li e lá vou eu remexer nas minhas estantes. Não consigo ler livros de poesia do princípio ao fim como leio um romance, por exemplo. Cada poema ocupa, na minha cabeça, o mesmo espaço que um conto, um romance… É uma unidade completa, que precisa de tempo para ser pensada e para ser guardada. Só assim posso construir as minhas bibliotecas: a física e a que fica arquivada dentro da minha cabeça. O Canto de Mim Mesmo não há-de ser lido ininterruptamente da primeira à última página.; talvez desapareça e volte a aparecer daqui a uns dias. Porque é que nunca escrevi sobre um poema, um livro, um poeta como já o fiz em relação a outros géneros literários? Isso é uma pergunta mais difícil de responder. Não sei ao certo… Nem sou obrigada a saber. Não é que seja incapaz de analisar poesia, já o fiz muitas vezes (sempre com hora marcada, é certo), simplesmente agora não o quero fazer por escrito, apenas mentalmente. Só devemos fazer as coisas porque queremos. Leio o que quero, quando quero; escrevo o que quiser, quando achar que o posso fazer como quero.
Porém, decidi suprimir a minha falta por algo mais útil e mais interessante. Hoje, assinala-se o dia mundial da poesia no Olho da Letra com um poema de António Maria Lisboa. A partir de hoje, a poesia estará mais presente no blogue e de forma regular.













CONJUGAÇÃO

A construção dos poemas é uma vela aberta ao meio e coberta de bolor
é a suspensão momentânea dum arrepio num dente fino
Como Uma Agulha

A construção dos poemas
A CONS
TRU
ÇÃO DOS
POEMAS

é como matar muitas pulgas com unhas de oiro azul
é como amar formigas brancas obsessivamente junto ao peito
olhar uma paisagem em frente e ver um abismo
ver o abismo e sentir uma pedrada nas costas
sentir a pedrada e imaginar-se sem pensar de repente

NUM TÚMULO EXAUSTIVO.




António Maria Lisboa, Poesia de António Maria Lisboa, Assírio & Alvim, Lisboa, 1995.

terça-feira, março 20, 2007

Bibliofesta




Decorre entre os próximos dias 21 de Março e 21 de Abril de 2007 a I Edição da BiblioFesta, em Oeiras, que tem como principal objectivo a promoção da leitura. As duas dezenas de actividades terão como mote central «Dar Voz aos Poetas».

A iniciativa, que partiu da Câmara Municipal de Oeiras, quer constituir-se como um grande evento anual naquela localidade. «O Espírito da Poesia», no Parque dos Poetas, pelas 21:30, marcará a abertura do evento.

Durante o espectáculo serão apresentadas leituras encenadas dos poemas mais representativos dos vinte poetas homenageados naquele local, entre os quais Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade, Natália Correia, Miguel Torga e Florbela Espanca, conciliando a natureza, o teatro, a música e a luz.

Entre as outras actividades previstas destaca-se também o «Café com Letras», no dia 22 de Março, às 21:30. Na Biblioteca Municipal de Oeiras estará presente Pedro Tamen para uma conversa informal com os leitores, moderada por Carlos Vaz Marques.


(Notícia retirada do Diário Digital)


Talvez no blogue dedicado às Bibliotecas Municipais de Oeiras, Oeiras a Ler, seja possível ir encontrando mais informações sobre as actividades programadas para esta Bibliofesta.

domingo, março 18, 2007

Lendo por aí














Passeando pela minha lista de ligações a outros blogues, encontrei o texto publicado hoje por João Barrento no seu blogue, Escrito a Lápis. Dando conta do nascimento de uma nova editora, a Sudoeste, João Barrento fala de uma das suas primeiras publicações, o livro de contos A Mulher que Prendeu a Chuva, de Teolinda Gersão, escrevendo acerca da autora e da sua obra o que eu penso sem que não tivesse ainda conseguido escrever.

sábado, março 17, 2007

Camões II



Já tive oportunidade de falar aqui da necessidade de haver mais trabalhos de divulgação e, também, de desmistificação de autores e obras clássicos da literatura portuguesa. Fi-lo a propósito de um pequeno livro de Aníbal Pinto de Castro sobre a vida e obra de Camões. Com intenção semelhante, destaco hoje a edição de Filodemo, do poeta Luís de Camões. Justamente, para lembrar que Camões não é só o poeta, a edição deste texto um pouco esquecido, até mesmo por pessoas mais ligadas à área da literatura, é de grande importância.

A comédia Filodemo é uma das incursões de Camões pelo género dramático que para além de permanecer, como já referi, esquecida, é, seguramente, ignorada por todos aqueles que apenas associam Camões a títulos como Os Lusíadas, ou a versos como Descalça vai para a fonte / Leanor pela verdura. Por outro lado, trata-se de um texto que tem gerado opiniões contraditórias junto da crítica e dos estudiosos. Como explica José Camões na «nota introdutória»:

O Auto ou Comédia de Filodemo, ou simplesmente Filodemo, (há até quem lhe chame Tragicomédia) tem levado a crítica a sentidos diametralmente opostos, desde ser considerado do melhor de Camões até ao pior. O facto é que a História do Teatro o ignora quase por completo e a História da Literatura pouco lhe tem ligado (…) Filodemo é, pois, por várias razões, o parente pobre do teatro de Camões: o que, até agora, menos vezes foi na íntegra objecto de trabalho teatral (…), o que menos edições conheceu, o que menos bibliografia originou e o único para o qual não foi encontrada uma fonte directa que satisfizesse plenamente o crítico mais afoito. (p.9)

A edição de Filodemo de que aqui falo, publicada com a chancela da Cotovia, em 2004, coincidiu e está relacionada com a encenação que Luís Miguel Cintra concebeu para esta peça, levada ao palco do Teatro do Bairro Alto nesse mesmo ano. Responsável por esta edição do texto quinhentista, José Camões abraçou a complexa tarefa de utilizar como fonte o testemunho manuscrito da comédia. De notar que a mais recente edição de Filodemo é amplamente acompanhada de notas e de um glossário, ficando deste modo demonstrado o cuidado que José Camões teve em acompanhar o leitor pouco ou nada familiarizado com o português do século XVI. Afinal, os leitores de teatro quinhentista não têm que estar confinados às paredes das faculdades de letras. Nós só podemos escolher ler o que conhecemos e o que nos é acessível.

Luís de Camões, Filodemo, edição de José Camões, Edições Cotovia, Lisboa 2004.

quinta-feira, março 08, 2007

Dia Internacional da Mulher

No Dia Internacional da Mulher, deixo aqui no Olho da Letra algumas sugestões de literatura no feminino. Não são apenas livros escritos por mulheres, são também livros que reflectem sobre o que é (e o que era) ser mulher. A lista podia ser enorme, mas reduzi-a apenas a cinco títulos. Boas leituras.


Clarice Lispector, Laços de Família, Colecção
«Curso Breve de Literatura Brasileira», Livros Cotovia.


Nos contos de Laços de Família, Clarice Lispector desenvolve uma reflexão sobre a vida exterior e interior da mulher. Um livro imprescindível não só hoje, mas todos os dias.









Virginia Woolf, Mrs Dalloway, Relógio D´Água.


Virginia Woolf, Um Quarto Só Para Si, Relógio D´Água.


De Virginia Woolf, deixo duas sugestões de leitura. A primeira um romance, Mrs. Dalloway, a segunda um ensaio, Um Quarto Só Para Si.






A Urgência de Contar. Contos de mulheres dos anos 40, organização de Ana Paula Ferreira, Editorial Caminho.


A Urgência de Contar reúne contos de várias escritoras portuguesas, datados da década de quarenta. Estes textos centram-se na condição feminina num Portugal governado por duas ditaduras: a de Salazar e a da iliteracia, da ignorância, do atraso social em que se vivia. Se a primeira promovia a segunda, a segunda ajudava a manter o tipo de ordem retrógrada pretendida pela primeira. Porém, note-se, os contos escolhidos para este volume não se limitam ao seu papel de denúncia social e é de lamentar que muitas destas escritoras sejam, hoje, mais esquecidas do que lembradas.




Maria Lamas, As Mulheres do Meu País, Editorial Caminho.


As Mulheres do Meu País é um extraordinário documento sobre a vida das mulheres portuguesas, de norte a sul do país, na primeira metade do século XX. A dedicação de Maria Lamas ao seu trabalho de dar a conhecer a realidade da mulher portuguesa do seu tempo é notável. Uma edição que não devem deixar de conhecer.