«Ler e escrever. Ler e reler. Ler e lembrar.» Este era o mote de uma exposição organizada em 2001 e subordinada ao tema da literatura no feminino. «Mulheres do Século XX: 101 Livros», assim se chamava a exposição e o livro-catálogo publicado no âmbito desta iniciativa. A exposição, que esteve patente no Padrão dos Descobrimentos, tinha como principal atractivo uma instalação que convidava os visitantes a sentarem-se e a folhearem, a lerem, a descobrirem livros assinados por nomes, nacionais e estrangeiros, representativos da escrita e do pensamento femininos do século XX.
Foi ao terminar a minha visita a esta exposição que reparei nos livros associados a este projecto que se encontravam à venda no local: duas edições fac-similadas de duas conferências, Virginia Woolf — O Problema da Mulher nas Letras, de Manuela Porto, e Vidas que Foram Versos, de Teresa Leitão de Barros.
O texto de Manuela Porto, proferido na «Sociedade Nacional de Belas Artes» em 1947, foi editado pela Seara Nova nesse mesmo ano. Foi durante a «Exposição de Livros Escritos por Mulheres», organizada pelo Conselho Nacional de Mulheres Portuguesas (cuja presidente era, à altura, Maria Lamas), que Manuela Porto leu publicamente o seu ensaio. Centrado, em particular, na obra Um Quarto que Seja Seu, de Virginia Woolf, a escritora portuguesa analisa com um olhar crítico as questões colocadas por Woolf.
Muito embora não esconda a forte impressão que a obra da autora inglesa lhe causou desde a primeira leitura, Manuela Porto consegue evitar o 'texto-elogio' e fazer um texto crítico. A questão fundamental colocada por Virginia Woolf, no livro aqui em causa, é exposta e retomada de forma muito clara por Manuela Porto: «... antes de mais nada o problema da mulher é um problema económico, de todo sempre o foi.» De facto, era-o na Inglaterra de Virginia Woolf e continuava a sê-lo no Portugal de Manuela Porto. A mulher, durante séculos, sem meios próprios, sem direito à posse, mantida no interior da casa, presa à condição quase irrevogável da maternidade, não tinha possibilidade de reunir as condições necessárias para uma vida dedicada à arte. As marcas desse passado são ainda visíveis ao percorrermos as histórias da literatura, da pintura, e de todas as outras artes.
Vidas que Foram Versos, conferência datada de 1930, é uma retrospectiva das mais importantes figuras femininas retratadas na literatura portuguesa. Mais uma vez, foi Maria Lamas quem promoveu o evento que acolheu a conferência de Teresa Leitão de Barros, o certame «Mulheres Portuguesas». Começando a sua análise com a poesia trovadoresca e chegando até ao século XIX, Teresa Leitão de Barros reflecte sobre o papel, ou, melhor dito, os papéis que foram sendo atribuídos à mulher ao longo da história da nossa literatura. Nas páginas de Teresa Leitão de Barros encontramos diferentes autores, diferentes correntes literárias e, naturalmente, diferentes construções do carácter e da figura femininos.
Em diálogo com o livro de Manuela Porto, este Vidas que Foram Versos permite chegar a uma irónica conclusão: pese embora o facto de as mulheres terem percorrido um longo caminho para garantir o seu lugar na literatura enquanto agentes, o seu lugar enquanto objecto sempre esteve garantido pelo espantoso número de obras escritas acerca da mulher e pela presença constante da mulher na literatura. Nos livros, elas eram adoradas ou odiadas, superiores ou inferiores, mas nunca estavam em pé de igualdade com a figura demiúrgica do poeta.
O texto de Manuela Porto, proferido na «Sociedade Nacional de Belas Artes» em 1947, foi editado pela Seara Nova nesse mesmo ano. Foi durante a «Exposição de Livros Escritos por Mulheres», organizada pelo Conselho Nacional de Mulheres Portuguesas (cuja presidente era, à altura, Maria Lamas), que Manuela Porto leu publicamente o seu ensaio. Centrado, em particular, na obra Um Quarto que Seja Seu, de Virginia Woolf, a escritora portuguesa analisa com um olhar crítico as questões colocadas por Woolf.
Muito embora não esconda a forte impressão que a obra da autora inglesa lhe causou desde a primeira leitura, Manuela Porto consegue evitar o 'texto-elogio' e fazer um texto crítico. A questão fundamental colocada por Virginia Woolf, no livro aqui em causa, é exposta e retomada de forma muito clara por Manuela Porto: «... antes de mais nada o problema da mulher é um problema económico, de todo sempre o foi.» De facto, era-o na Inglaterra de Virginia Woolf e continuava a sê-lo no Portugal de Manuela Porto. A mulher, durante séculos, sem meios próprios, sem direito à posse, mantida no interior da casa, presa à condição quase irrevogável da maternidade, não tinha possibilidade de reunir as condições necessárias para uma vida dedicada à arte. As marcas desse passado são ainda visíveis ao percorrermos as histórias da literatura, da pintura, e de todas as outras artes.
Vidas que Foram Versos, conferência datada de 1930, é uma retrospectiva das mais importantes figuras femininas retratadas na literatura portuguesa. Mais uma vez, foi Maria Lamas quem promoveu o evento que acolheu a conferência de Teresa Leitão de Barros, o certame «Mulheres Portuguesas». Começando a sua análise com a poesia trovadoresca e chegando até ao século XIX, Teresa Leitão de Barros reflecte sobre o papel, ou, melhor dito, os papéis que foram sendo atribuídos à mulher ao longo da história da nossa literatura. Nas páginas de Teresa Leitão de Barros encontramos diferentes autores, diferentes correntes literárias e, naturalmente, diferentes construções do carácter e da figura femininos.
Em diálogo com o livro de Manuela Porto, este Vidas que Foram Versos permite chegar a uma irónica conclusão: pese embora o facto de as mulheres terem percorrido um longo caminho para garantir o seu lugar na literatura enquanto agentes, o seu lugar enquanto objecto sempre esteve garantido pelo espantoso número de obras escritas acerca da mulher e pela presença constante da mulher na literatura. Nos livros, elas eram adoradas ou odiadas, superiores ou inferiores, mas nunca estavam em pé de igualdade com a figura demiúrgica do poeta.
Manuela Porto, Virginia Woolf — O Problema da Mulher nas Letras (edição fac-similada), Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, 2001.
Teresa Leitão de Barros, Vidas que Foram Versos (edição fac-similada), Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, 2001.
Virginia Woolf, Um Quarto que Seja Seu, Vega, 3ª edição, s.l., 1996.
Nova edição:
Virginia Woolf, Um Quarto Só para Si, tradução e prefácio de Maria de Lourdes Guimarães, Relógio D’Água.
2 comentários:
Obrigada e bem-vindo ao blogue. Espero que o que vá escrevendo esteja à altura do elogio.
eu ainda nao o li todo mas ate agora sta a ser muito FIXE!!!!!!!!!!!!!!
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