segunda-feira, novembro 27, 2006

Sobre a leitura

Li hoje que, na cidade da Batalha, se tenta dar um novo impulso à leitura. Transcrevo aqui um excerto da notícia, retirado do Diário Digital:

O projecto, designado «Biblio Clube 24», é da Câmara Municipal da Batalha, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, e assenta numa máquina tipo Multibanco com capacidade para disponibilizar 170 livros de diferentes tipos, aos portadores de um cartão magnético distribuído gratuitamente pela Biblioteca Municipal.

A principal vantagem deste tipo de iniciativa será, como é óbvio, a possibilidade de poder requisitar um livro a qualquer hora. Assim sendo, o horário de funcionamento das bibliotecas, que muitas vezes coincide com o horário de trabalho dos seus utentes, deixaria de ser um obstáculo à leitura. Isto, claro, não pondo de lado o facto de o número de livros disponíveis através deste sistema ser, naturalmente, mais reduzido do que o acervo que temos à nossa disposição quando visitamos uma biblioteca.
Na sequência de um trabalho que realizei o ano passado, tendo como objectivo tentar caracterizar os hábitos de leitura dos utentes da Biblioteca Municipal de Almada (BMA), tive oportunidade de realizar um pequeno questionário junto dos utentes desta biblioteca e, de facto, o horário de funcionamento da biblioteca (a BMA funciona das 10h às 18h, de terça-feira a sábado) era considerado um dos motivos para a frequência menos assídua da biblioteca. Do mesmo modo, o alargamento do horário de funcionamento era o aspecto mais apontado pelos utentes, quando lhes era perguntado em que aspectos consideravam que a biblioteca poderia melhorar os serviços prestados.
Seria despropositado tentar chegar a alguma conclusão a partir de dados retirados de um estudo tão pequeno e limitado como o meu e que, além do mais, diz respeito a outra cidade e a outra biblioteca. Ainda assim, julgo que será justo afirmar que o horário de funcionamento das bibliotecas poderá realmente impedir a visita de potenciais utentes e leitores. Todavia, outra questão se deve levantar: quantos daqueles que afirmam que não vão mais vezes à biblioteca devido à incompatibilidade de horários irão, de facto, ler graças ao projecto «Biblio Clube 24»? Não podemos esquecer que o livro, apesar dos números relativos à leitura no nosso país, é ainda colocado numa espécie de pedestal enquanto objecto cultural. Ironicamente, esta relação ainda pouco familiar com o livro parece afastar as pessoas do acto de ler, mas aumentar a sua vontade de se afirmarem como leitoras. Por isso, não é de estranhar que haja tendência para arredondar o número de livros que se lê e para exagerar um pouco quando se fala das intenções de leitura. Resta-nos aguardar pelos resultados desta iniciativa, esperando que o balanço seja positivo.

domingo, novembro 26, 2006

Mário Cesariny, 1923-2006


Primeiro, pensei em apenas pôr aqui a notícia da sua morte. Depois, achei que talvez pudesse transcrever um dos seus poemas. Cheguei à conclusão que a melhor coisa a dizer será leiam poesia, assim mesmo, com o imperativo.

quarta-feira, novembro 15, 2006

"Diabolíada"


A editora &etc publicou este ano e não há muito tempo, julgo, a novela Diabolíada do escritor russo Mikhaïl Bulgakov (1891-1940). O facto de ser difícil encontrar traduções de obras deste autor nas nossas livrarias faria, por si só, com que esta edição fosse digna de nota. Porém, depois de ler o livro, cheguei à conclusão de que este não era o único motivo de interesse em Diabolíada. Ainda assim, uma observação menos positiva deve ser feita: a tradução não foi feita a partir do original russo, mas sim de uma tradução francesa. Previno também os potenciais leitores mais interessados em questões de tradução que a edição francesa utilizada não se encontra devidamente identificada. Por outro lado, esta edição tem a seu favor a inclusão de uma biografia do autor acompanhada de cartas de Bulgakov dirigidas a Estaline, bem como de um texto autobiográfico.
A vida literária do autor de Margarita e o Mestre não decorreu livre de dificuldades, em grande parte relacionadas com a ascensão política de Estaline, na antiga U.R.S.S. e as crescentes censura e perseguições de que foram alvo escritores e outras figuras ligadas à cultura na época. Bulgakov viu sucessivamente as suas peças serem tiradas de cena e originais, exemplares únicos das suas obras, serem levados da sua casa. Enfim, ao longo da sua vida sucederam-se entraves ao conhecimento e reconhecimento da sua obra, de tal forma, que não raras vezes escrevia simplesmente para a gaveta, sabendo de antemão que ninguém iria publicar os seus livros ou encenar as suas peças.

Diabolíada ou de como gémeos causaram a morte dum chefe de repartição conta os últimos dias da vida de Korotkov, o chefe de repartição, cuja morte, segundo nos informa à partida o título, foi causada por dois gémeos. Os acontecimentos que acabariam por conduzir à morte desta personagem estão rodeados por uma estranheza que não cabe nos moldes de um mundo racional. Não obstante, o que achei mais interessante neste livro enquanto leitora é que o enredo não vive apenas do fantástico, ou seja, não vive apenas do inexplicável ou da invasão, de consequências sempre imprevisíveis, do sobrenatural no nosso mundo e na vida quotidiana. Na verdade, os episódios que tão violentamente arrancam Korotkov à sua existência enquanto chefe de repartição, tal como a imaginamos antes do início da história, sem sobressaltos, geram-se de duas formas: resultam de equívocos originados pelo conhecimento parcial que a personagem tem da realidade, ou da sugestão de uma intervenção demoníaca (cuja referência mais directa será o cheiro a enxofre mencionado diversas vezes) que controla e brinca com as vidas das personagens a seu bel-prazer. Mas mais curioso é o facto de estas duas vertentes do texto não se encontrarem totalmente separadas. Assim, enquanto que Korotkov se vê perdido num mundo que, de repente, deixa de poder ser explicado pela razão e cujo caos ataca a sua natureza humana e racional, o leitor, por outro lado, vê-se embrenhado em situações que progressivamente deixam de poder ser totalmente esclarecidas pelo tal conhecimento parcial e errado que a personagem tem da realidade. A história termina com a perseguição que levará à morte da personagem principal. Korotkov, ao ver-se cercado pelo mistério dos dois Kalsoners (os gémeos), prefere morrer a viver uma vida que, irremediavelmente, deixou de controlar e de compreender.
— Acabou-se, acabou-se, exclamou debilmente Korotkov. — A batalha está perdida. Tá-tá-tá! Acrescentou, imitando com os lábios o toque de retirada.


Mikhaïl Bulgakov, Diabolíada, tradução de Célia Henriques, &etc, Lisboa, 2006.

Em Lisboa, a única livraria onde, até agora, vi este livro foi na livraria Letra Livre (Calçada do Combro).

sábado, novembro 04, 2006

"Jazz em Portugal (1920-1956)"

Dizia ontem Rosa Montero, no Câmara Clara, que tem em casa uma pilha de 600 ou 700 livros à espera de serem lidos... já! A minha pilha de livros a ler é mais modesta. Maior é a quantidade de livros que eu quero ler, agora e com urgência, mas que ainda não chegaram cá a casa. Um dos mais recentes é Jazz em Portugal (1920-1956), de Hélder Bruno de Jesus Redes Martins e editado pela Almedina. O livro foi apresentado no passado dia 2 em Coimbra, no âmbito do "Jazz ao Centro - Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, 2006". Não consegui descobrir se está alguma apresentação programada para Lisboa e arredores, mas, de qualquer modo, o livro já se encontra à venda e à espera de ser lido.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Alice

Através do blogue dedicado à literatura infantil e juvenil Alcameh, descobri que se encontra acessível, no site da British Library, o manuscrito que deu origem ao livro Alice no País das Maravilhas, com ilustrações de Lewis Carrol.

Mais informação

Ler o manuscrito