Ler Clarice Lispector faz-nos querer atrasar a leitura com medo de chegar ao fim do livro, só para prolongar as horas em que nos sentamos e pegamos no livro para mais uma conversa.
Nenhuma escritora consegue como ela perscrutar, de forma tão cruel, mas tão natural, a vida aparentemente comum e a vida escondida dentro cada um de nós. Clarice é uma decifradora que escreve o que julgávamos impossível de materializar em palavras, parecendo, no entanto, dizer-nos que os nossos segredos estão bem guardados com ela.
Tal como escreve num dos seus contos, «Tempestade de Almas»: “Só posso escrever se estiver livre, e livre de censura, senão sucumbo. (...) Aliás eu só sei em todas as circunstâncias ser íntima ...”*
Em Portugal, a maior parte da obra de Clarice Lispector até hoje publicada tem a chancela da editora Relógio D’Água. No ano passado, surgiu uma nova edição do livro de contos Laços de Família, incluída na colecção Curso Breve de Literatura Brasileira, da editora Cotovia, e com posfácio de Carlos Mendes de Sousa. Existe também um livro de crónicas editado em 2004 pela Indícios de Oiro: A Descoberta do Mundo. Todavia, os livros para crianças desta escritora ainda não mereceram a atenção das nossas editoras.
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