Há uns tempos atrás, escrevi sobre o livro Memórias de um Cavalinho de Pau, de Alexandre Parafita. Referi, então, o contexto em que li o livro e o trabalho de leitura e de interpretação que estava a preparar, com os meus alunos de Educação Musical, à volta destas Memórias. Esta semana foi dedicada ao livro e à leitura e as escolas onde lecciono receberam a visita de Alexandre Parafita e da autora M. Carolina Pereira Rosa.
Em primeiro lugar, devo dizer, que esta semana foi absolutamente maravilhosa para quem se preocupa com a leitura em Portugal e para quem fica profundamente preocupado (e triste também) quando ouve uma criança dizer que não gosta de ler. Foi realmente animador ver tantas crianças abraçadas a livros, a folheá-los, a lê-los, a contarem com orgulho, os livros que tinham adquirido e em que ponto iam as leituras de cada um. Aliar a vinda de escritores à escola a uma reflexão mais aprofundada sobre as suas obras e à realização de uma feira do livro (à qual nem eu consegui resistir), onde os alunos puderam, sozinhos (de forma independente, portanto) escolher os livros que queriam ler, é uma ideia excelente, que, de facto, deu frutos.
O primeiro escritor a visitar-nos foi M. Carolina Pereira Rosa, na passada terça-feira. Autora de um número impressionante de manuais escolares dirigidos ao ensino básico, os seus livros dedicados aos mais pequenos são, tanto para as crianças como para adultos, encantadores. Certamente, quem, como eu, entrou para a escola nos anos 80 lembrar-se-á que aprendeu a ler com o livro Beija-Flor, de M. Carolina Pereira Rosa, sendo um dos seus manuais com mais sucesso nas nossas escolas.
Embora a literatura infantil seja uma aventura mais recente para M. Carolina Pereira Rosa, pelo menos se a compararmos com a publicação de manuais escolares assinados pela autora, iniciada por volta e 1985, é notório o profundo conhecimento do universo infantil demonstrado por esta professora. Apesar de não exercer já aquela que considera ainda ser a sua principal profissão, o seu afastamento das salas de aula não a fez perder a sensibilidade necessária para saber conversar com crianças. Uso a palavra «conversar» porque acho (e sublinho o uso do verbo achar, uma vez que nunca escrevi nenhum livro) que um dos segredos de escrever bem para crianças, de conseguir chegar até elas será entender a escrita como uma conversa. Se a criança ler o livro e não sentir que estão a falar com ela, se sentir que está a ler um monólogo, não se vai entusiasmar com a leitura.
Após a apresentação das encenações feitas pelos alunos a partir de episódios retirados dos livros Senhor Reizinho e João Brincalhão, a autora respondeu a algumas questões preparadas por uma das turmas. Através das respostas que foi dando às perguntas que lhe iam sendo colocadas sobre a sua actividade de escritora, descobrimos um pouco mais sobre a obra de M. Carolina Pereira Rosa e, igualmente, sobre o modo como a autora encara a escrita. Ficou claro que é com a humildade de quem escreve a sua primeira obra que esta escritora encara cada incursão na literatura infantil. Talvez seja este mais um segredo da escrita, tomar cada novo desafio como se fosse o primeiro, para não perder de vista o que se pretende fazer e onde se quer chegar.
Outro momento que importa destacar nesta conversa entre M. Carolina Pereira Rosa e os seus leitores diz respeito às ilustrações dos livros Senhor Reizinho e João Brincalhão. Responsável também pelas ilustrações destes volumes, a escritora explicou aos meninos como eram feitas as ilustrações, salientando que o seu método era simples e que dependia da criatividade de cada um. Ao explicar que todas as figuras utilizadas nas suas ilustrações eram feitas a partir de círculos de vários tamanhos, a autora mostrou às crianças que, com imaginação, é possível fazer o que se quiser.
Obras de M. Carolina Pereira Rosa:
João Brincalhão (2002)
Senhor Reizinho (2004)
Pimpona, a Galinha Tonta (2004)
O Segredo da Pimpona (2006)
Todos os livros foram publicados pelas Edições Nova Gaia.
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