quinta-feira, agosto 17, 2006

A edição de teatro: «Repertório Básico de Teatro»


O teatro não é um género literário preferido por muitos, o que aliás se pode comprovar ao percorrer o olhar por alguns estudos já realizados sobre os hábitos de leitura dos portugueses. Consequentemente, o teatro, a par de outros, como a poesia, não é um segmento rentável para as editoras nacionais. Facilmente se percebe, assim, que apostar na edição de textos desta natureza é um risco e que uma pequena editora não se pode dar ao luxo de pagar para ver. Tendo em conta que o panorama editorial português é maioritariamente constituído por pequenas e médias empresas, não será de estranhar que, quando comparado com outros segmentos, se publique pouco teatro no nosso país.

Apesar deste cenário pouco optimista, existem exemplos (bons exemplos) de editoras portuguesas que incluem, de forma consistente, o teatro nas suas linhas editoriais, como é o caso, apenas para referir algumas das mais conhecidas, da Relógio d’Água, da Dom Quixote ou da Cotovia, entre outras. Hoje, porém, a minha atenção vai para a colecção «Repertório Básico de Teatro» que faz parte do catálogo editorial da Colibri. Trata-se de uma coedição da Colibri com o Instituto Português das Artes e do Espectáculo, que, actualmente, e depois de uma fusão em 2003 com o Instituto de Arte Contemporânea, se denomina Instituto das Artes, e com a Delegação Regional da Cultura do Alentejo. A publicação desta colecção composta por dezasseis volumes iniciou-se em 1999 e abrange nomes absolutamente indispensáveis para compreender a história da literatura e, naturalmente, a história do teatro. Desde Plauto até Brecht, passando por Gil Vicente ou Molière, é traçado o percurso do teatro desde a antiguidade clássica até ao século xx. Para além do evidente valor literário e cultural destas edições, existe ainda uma particularidade que importa referir. Sendo, pelo menos em potência, uma colecção de interesse para o público em geral, ela dirige-se, não obstante, a um tipo de leitor em especial. Tal como é referido no prefácio que acompanha cada volume, este conjunto de textos é destinado a todos aqueles que se dedicam ao teatro amador. Como seria de esperar, ao público alvo não é alheia a concepção e organização de cada volume, uma vez que o texto dramático é acompanhado por uma nota introdutória que permite ao leitor, em primeiro lugar, contextualizar no tempo e no espaço a peça que se seguirá. Por outro lado, são dadas indicações e sugestões destinadas a encenadores e actores que se dediquem, justamente, ao teatro amador. Se é verdade que o teatro não tem tantos leitores como seria desejável, não é menos verdade que por todo o país existem grupos de teatro amador que saberão tirar o melhor partido de iniciativas como esta.

Como já referi, o primeiro título desta colecção foi editado em 1999, tendo sido publicados, até 2001, doze dos dezasseis títulos previstos. Até à data, e segundo a informação disponível no site da editora, não foram publicados os restantes quatro livros. Uma vez que já se passaram cinco anos desde a publicação dos títulos disponíveis, não será muito fácil encontrá-los nas livrarias. A melhor opção para quem estiver interessado em lê-los será encomendá-los no site da editora, dirigir-se a uma das livrarias da Colibri ou esperar por uma das cada vez mais frequentes feiras do livro que se vão organizando ao longo de todo o ano e um pouco por todo o lado, onde, se procurarmos bem, acabamos sempre por encontrar livros que nos interessam.


Lista de títulos:

1. Plauto, O Soldado Fanfarrão.
2. Anónimo francês do século xv, Farsa de Mestre Pathelin.
3. Gil Vicente, Quem Tem Farelos?
4. Ruzante, Falatório de Ruzante de Volta da Guerra.
5. Cervantes, O Velho Ciumento.
6. Molière, Esganarelo ou o Cornudo Imaginário.
7. Marivaux, O Preconceito Vencido.
8. Carlo Goldoni, Uma das Últimas Tardes de Carnaval.
9. Heinrich Von Kleist, A Bilha Quebrada.
10. Prosper Merimée, O Céu e o Inferno.
11. Almeida Garrett, Falar Verdade a Mentir.
12. Anton Tchekov, (texto a escolher).*
13. Raúl Brandão, O Doido e a Morte.
14. Brecht, A excepção e a regra.*
15. Sean O'Casey, O fim do princípio.*
16. Tankred Dorst, A grande imprecação diante das muralhas da cidade.*


http://www.edi-colibri.pt/teatro.html


* Títulos ainda não publicados

2 comentários:

Inês Rosa disse...

És perita em dar pequenas alegrias. Este blog é mais uma.
Serei uma leitora leal :)

Aida Cardoso disse...

Bem-vinda e obrigada :)