E-books, audiobooks... No meio de tantas reinvenções da leitura, não é difícil que alguns formatos passem despercebidos no meio da azáfama da busca pela novidade. Será que dispensamos tempo suficiente a manusear, a ver, a ler os livros que acompanham a música que ouvimos? Livros e música... Começo a aventurar-me em território pantanoso.
A edição de livros sobre música em Portugal é um assunto penoso. Sente-se mais a sua ausência do que a sua presença. Mas, sobre este assunto, não me quero alongar muito mais, por hoje. Ficará para uma próxima vez, escrito à luz de uma pesquisa em livrarias que ainda não tive oportunidade de fazer exactamente como eu quero, de forma demorada e meticulosa.
Perguntava eu se damos a devida atenção aos livros que acompanham a música que ouvimos. Penso, particularmente, em algumas colecções temáticas, que revelam um cuidadoso plano editorial no que diz respeito à selecção de conteúdos e, igualmente, no que diz respeito ao grafismo. Dois exemplos daquilo a que me refiro hoje são as colecções Let’s jazz e BD Jazz. Refiro estas duas colecções, cuja distribuição esteve a cargo de dois jornais, o Público e o Diário de Notícias, respectivamente, porque, sendo ambas um tributo à história do jazz, têm, no entanto, abordagens distintas. Por outro lado, sendo a componente musical talvez o apelativo mais forte para o público, especialmente no que diz respeito a Let’s Jazz, já que a BD Jazz poderá atrair não só os ouvintes de jazz, mas, também, os leitores de banda desenhada, é minha intenção enfatizar que o que está aqui em causa não é apenas a publicação de música mas, igualmente, de conteúdos sobre música.
BD Jazz, como fica, aliás, evidente pelo nome, alia a Banda Desenhada ao jazz. Em cada volume vemos a vida de um músico retratada através do trabalho conjunto de diversos argumentistas e ilustradores. Esta iniciativa com origem em França, onde é editada pela Nocturne, teve, em Portugal, três edições especiais com trabalhos inéditos de autores portugueses.
Quanto a Let’s Jazz, projecto da responsabilidade de José Duarte (autor que contraria a minha visão pessimista em relação à edição de livros sobre música no nosso país) em parceria com o Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Aveiro, é uma colecção com uma organização um pouco diferente. Neste caso, cada volume conta com um texto de um músico cujo trabalho o torna mais apto a falar sobre o papel de determinado instrumento ou músico na história do jazz. Para além da componente textual, existe, nesta colecção, uma forte componente visual, através da reprodução de documentos (fotografias, cartazes, capas de livros, etc.).
Muito embora estas colecções não sejam novidades editoriais e, certamente, sejam do conhecimento de todos, não deixei, mesmo assim, que isso me demovesse de escrever aqui sobre elas. A sua qualidade e o meu gosto pessoal o justificam. Queria, no entanto, realçar que não são os únicos bons exemplos, o que é o mesmo que dizer que não há livros insuspeitos, há, isso sim, livros que às vezes passam despercebidos por não serem pensados como tal.
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