terça-feira, abril 03, 2007

Maria Archer



Acabada de chegar à minha biblioteca, vinda da livraria Letra Livre, esta 1.ª edição do romance de Maria Archer Nada Lhe Será Perdoado, de 1952, é um importante contributo para a bibliografia que vou tentando reunir e ler sobre a «literatura feminina», ou «literatura no feminino», como preferirem. Como não é todos os dias que consigo encontrar uma primeira edição, não podia deixar de escrever esta breve nota sobre a minha aquisição. Aproveito também para transcrever a nota bibliográfica redigida por Ana Paula Ferreira sobre a escritora Ana Archer, que podem encontrar no livro A Urgência de Contar. Contos de Mulheres dos anos 40.





Nada Lhe Será Perdoado, Maria Archer, Edições SIT, Lisboa, s/d.






Maria Archer (Lisboa, 1905-1982)

Ficcionista, jornalista e ensaísta prolífica, Maria Emília Archer Eyrolles Baltasar Moreira deixou-nos o que se pode considerar um panorama da vida privada, ou das mentalidades e condutas características de certa faixa burguesa e pequeno-burguesa da sociedade portuguesa entre as décadas de trinta e cinquenta. Tendo vivido e, mais tarde, passado temporadas em África, onde recolhe apontamentos históricos e etnográficos, a autora colabora com várias monografias para os «Cadernos Coloniais», desde o início da série em 1935. A maior parte deste material será depois incluído nos seus livros de divulgação colonial, o primeiro dos quais é Roteiro do Mundo Português (1940). Em 1938, o seu livro de literatura infantil, Viagem à Roda de África, ganha o prémio Maria Amália Vaz de Carvalho, do Serviço de Propaganda Nacional. Nesse mesmo ano, aparece o seu segundo livro de novelas, Ida e Volta de Uma Caixa de Cigarros, retirado do mercado em 1939. O arrojo com que se move na sociedade do seu tempo como mulher livre e de ideias avançadas, arrojo que estende a uma obra de ficção denunciando a dependência social, económica, espiritual e sexual femininas, levam-na a ser vista como «uma escritora incómoda». Essa será, pelo menos em parte, a razão pela qual alguns dos seus livros gozam de relativo sucesso junto do grande público, como o provam as suas reedições. O seu romance Casa Sem Pão (1947) é também apreendido pela Censura. Vivendo à custa do seu trabalho e exibindo uma impressionante cultura, de cunho anglófilo em particular, a autora colabora assiduamente em revistas e jornais de Portugal, das então colónias africanas e, mais tarde, do Brasil. É também tradutora de Hellen Grace Carlisle, Anton Coolen e Voltaire. Filiada no Movimento de Unidade Democrática desde 1945, é alvo de perseguições que se intensificam após ter feito a reportagem do julgamento de Humberto Delgado em 1952. Em 1954, exila-se no Brasil , onde publica várias obras de divulgação colonialista (muito embora críticas do regime salazarista), merecendo este filão da sua obra o elogio de, entre outros, Gilberto Freyre. A autora volta a Portugal em 1977, doente e na mais completa destituição, acabando os seus dias num asilo.

Bibliografia parcial:

Três Mulheres (novela, 1935)
Sertanejos (Cadernos Coloniais, 1935)
África Selvagem, Folclore dos Negros do Grupo Bantú (Cadernos Coloniais, 1936)
Ida e Volta de Uma caixa de Cigarros (novelas, 1938)
Há Dois Ladrões Sem Cadastro (novela, 1940)
Roteiro do Mundo Português (divulgação histórica, 1940)
Herança Lusíada (divulgação histórica, com Prefácio de Gilberto Freyre, 1940)
Fauno Sovina (contos, 1941)
Ela É apenas Mulher (romance, 1944)
Casa Sem Pão (romance, 1947)
Há-de Haver Uma Lei (contos, 1949)
Filosofia de Uma Mulher Moderna (contos, 1950)
O Mal não Está em Nós (romance, 1950)
Bato às Portas da Vida (romance, 1951)
Nada Lhe Será Perdoado (romance, 1952)
A Primeira Vitima do Diabo (romance, 1954)
África Sem Luz (contos, 1962)
Brasil, Fronteira de África (divulgação, ensaísmo, 1962)*

*A Urgência de Contar. Contos de Mulheres dos anos 40
, organização de Ana Paula Ferreira, Editorial Caminho, Lisboa, 2002, pp. 277-278.

4 comentários:

JFSR disse...

Sem pretender desvalorizar o interessante artigo sobre MARIA ARCHER, seja-me permitido um reparo relativamente à incorrecta referência ao julgamento em 1952 de Humberto Delgado(ao tempo ainda não se dera a sua ruptura com o regime), em lugar de Henrique Galvão.
jfsr

isa pontes disse...

Não me lembro de ler nada parecido com o que escreve esta maravilhosa mulher, sobre África. Toda ela é paixão! Fantástica! Porém, agora, fiquei triste e sem alma ao saber como foi o seu fim, num asilo. Fez-me lembrar Aristides de Sousa Mendes. Triste país o nosso ou triste mundo... Que valorizam Camarinhas e C. Brancos, na TV, e esquecem os grandes seres do passado que fizeram história do nosso mundo português pelas suas buscas dos valores mais nobres: a humanidade e a divulgação da história nossa, do que fomos, do que construimos de bom. Apetece-me chorar por eles e também por mim pois sinto-me desamparada e prevejo o mundo que vamos oferecer aos nossos filhos.
Isa Pontes

Unknown disse...

Só queria esclarecer que Maria Archer nasceu em 1899, portanto cinco anos antes do que ela costumava indicar. Atitude característica de algumas mulheres... um problema para os seua biógrafos.
Leonel Gonçalves

Júlia Coutinho disse...

Maria Archer nasceu a 4 de Janeiro de 1899, conforme documentos encontrados nos arquivos da PIDE/DGS...