domingo, dezembro 24, 2006

Boas Festas!

Desejo a todos os que por aqui passam um feliz Natal, um óptimo ano de 2007 e, claro, muitas e boas leituras.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Fernando Lopes-Graça

No ano em que se comemora o centenário do nascimento de Fernando Lopes-Graça, foram editados alguns livros sobre o compositor português. Destaco a obra A Canção Popular Portuguesa em Fernando Lopes-Graça, de Alexandre Branco Weffort, editado no passado mês de Setembro com a chancela da Caminho. Mais recentemente, foi publicado, pela editora Campo das Letras, o ensaio Pensar a Música, Mudar o Mundo: Fernando Lopes-Graça, da autoria do musicólogo e actual Secretário de Estado da Cultura Mário Vieira de Carvalho.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Sobre a leitura

Li hoje que, na cidade da Batalha, se tenta dar um novo impulso à leitura. Transcrevo aqui um excerto da notícia, retirado do Diário Digital:

O projecto, designado «Biblio Clube 24», é da Câmara Municipal da Batalha, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, e assenta numa máquina tipo Multibanco com capacidade para disponibilizar 170 livros de diferentes tipos, aos portadores de um cartão magnético distribuído gratuitamente pela Biblioteca Municipal.

A principal vantagem deste tipo de iniciativa será, como é óbvio, a possibilidade de poder requisitar um livro a qualquer hora. Assim sendo, o horário de funcionamento das bibliotecas, que muitas vezes coincide com o horário de trabalho dos seus utentes, deixaria de ser um obstáculo à leitura. Isto, claro, não pondo de lado o facto de o número de livros disponíveis através deste sistema ser, naturalmente, mais reduzido do que o acervo que temos à nossa disposição quando visitamos uma biblioteca.
Na sequência de um trabalho que realizei o ano passado, tendo como objectivo tentar caracterizar os hábitos de leitura dos utentes da Biblioteca Municipal de Almada (BMA), tive oportunidade de realizar um pequeno questionário junto dos utentes desta biblioteca e, de facto, o horário de funcionamento da biblioteca (a BMA funciona das 10h às 18h, de terça-feira a sábado) era considerado um dos motivos para a frequência menos assídua da biblioteca. Do mesmo modo, o alargamento do horário de funcionamento era o aspecto mais apontado pelos utentes, quando lhes era perguntado em que aspectos consideravam que a biblioteca poderia melhorar os serviços prestados.
Seria despropositado tentar chegar a alguma conclusão a partir de dados retirados de um estudo tão pequeno e limitado como o meu e que, além do mais, diz respeito a outra cidade e a outra biblioteca. Ainda assim, julgo que será justo afirmar que o horário de funcionamento das bibliotecas poderá realmente impedir a visita de potenciais utentes e leitores. Todavia, outra questão se deve levantar: quantos daqueles que afirmam que não vão mais vezes à biblioteca devido à incompatibilidade de horários irão, de facto, ler graças ao projecto «Biblio Clube 24»? Não podemos esquecer que o livro, apesar dos números relativos à leitura no nosso país, é ainda colocado numa espécie de pedestal enquanto objecto cultural. Ironicamente, esta relação ainda pouco familiar com o livro parece afastar as pessoas do acto de ler, mas aumentar a sua vontade de se afirmarem como leitoras. Por isso, não é de estranhar que haja tendência para arredondar o número de livros que se lê e para exagerar um pouco quando se fala das intenções de leitura. Resta-nos aguardar pelos resultados desta iniciativa, esperando que o balanço seja positivo.

domingo, novembro 26, 2006

Mário Cesariny, 1923-2006


Primeiro, pensei em apenas pôr aqui a notícia da sua morte. Depois, achei que talvez pudesse transcrever um dos seus poemas. Cheguei à conclusão que a melhor coisa a dizer será leiam poesia, assim mesmo, com o imperativo.

quarta-feira, novembro 15, 2006

"Diabolíada"


A editora &etc publicou este ano e não há muito tempo, julgo, a novela Diabolíada do escritor russo Mikhaïl Bulgakov (1891-1940). O facto de ser difícil encontrar traduções de obras deste autor nas nossas livrarias faria, por si só, com que esta edição fosse digna de nota. Porém, depois de ler o livro, cheguei à conclusão de que este não era o único motivo de interesse em Diabolíada. Ainda assim, uma observação menos positiva deve ser feita: a tradução não foi feita a partir do original russo, mas sim de uma tradução francesa. Previno também os potenciais leitores mais interessados em questões de tradução que a edição francesa utilizada não se encontra devidamente identificada. Por outro lado, esta edição tem a seu favor a inclusão de uma biografia do autor acompanhada de cartas de Bulgakov dirigidas a Estaline, bem como de um texto autobiográfico.
A vida literária do autor de Margarita e o Mestre não decorreu livre de dificuldades, em grande parte relacionadas com a ascensão política de Estaline, na antiga U.R.S.S. e as crescentes censura e perseguições de que foram alvo escritores e outras figuras ligadas à cultura na época. Bulgakov viu sucessivamente as suas peças serem tiradas de cena e originais, exemplares únicos das suas obras, serem levados da sua casa. Enfim, ao longo da sua vida sucederam-se entraves ao conhecimento e reconhecimento da sua obra, de tal forma, que não raras vezes escrevia simplesmente para a gaveta, sabendo de antemão que ninguém iria publicar os seus livros ou encenar as suas peças.

Diabolíada ou de como gémeos causaram a morte dum chefe de repartição conta os últimos dias da vida de Korotkov, o chefe de repartição, cuja morte, segundo nos informa à partida o título, foi causada por dois gémeos. Os acontecimentos que acabariam por conduzir à morte desta personagem estão rodeados por uma estranheza que não cabe nos moldes de um mundo racional. Não obstante, o que achei mais interessante neste livro enquanto leitora é que o enredo não vive apenas do fantástico, ou seja, não vive apenas do inexplicável ou da invasão, de consequências sempre imprevisíveis, do sobrenatural no nosso mundo e na vida quotidiana. Na verdade, os episódios que tão violentamente arrancam Korotkov à sua existência enquanto chefe de repartição, tal como a imaginamos antes do início da história, sem sobressaltos, geram-se de duas formas: resultam de equívocos originados pelo conhecimento parcial que a personagem tem da realidade, ou da sugestão de uma intervenção demoníaca (cuja referência mais directa será o cheiro a enxofre mencionado diversas vezes) que controla e brinca com as vidas das personagens a seu bel-prazer. Mas mais curioso é o facto de estas duas vertentes do texto não se encontrarem totalmente separadas. Assim, enquanto que Korotkov se vê perdido num mundo que, de repente, deixa de poder ser explicado pela razão e cujo caos ataca a sua natureza humana e racional, o leitor, por outro lado, vê-se embrenhado em situações que progressivamente deixam de poder ser totalmente esclarecidas pelo tal conhecimento parcial e errado que a personagem tem da realidade. A história termina com a perseguição que levará à morte da personagem principal. Korotkov, ao ver-se cercado pelo mistério dos dois Kalsoners (os gémeos), prefere morrer a viver uma vida que, irremediavelmente, deixou de controlar e de compreender.
— Acabou-se, acabou-se, exclamou debilmente Korotkov. — A batalha está perdida. Tá-tá-tá! Acrescentou, imitando com os lábios o toque de retirada.


Mikhaïl Bulgakov, Diabolíada, tradução de Célia Henriques, &etc, Lisboa, 2006.

Em Lisboa, a única livraria onde, até agora, vi este livro foi na livraria Letra Livre (Calçada do Combro).

sábado, novembro 04, 2006

"Jazz em Portugal (1920-1956)"

Dizia ontem Rosa Montero, no Câmara Clara, que tem em casa uma pilha de 600 ou 700 livros à espera de serem lidos... já! A minha pilha de livros a ler é mais modesta. Maior é a quantidade de livros que eu quero ler, agora e com urgência, mas que ainda não chegaram cá a casa. Um dos mais recentes é Jazz em Portugal (1920-1956), de Hélder Bruno de Jesus Redes Martins e editado pela Almedina. O livro foi apresentado no passado dia 2 em Coimbra, no âmbito do "Jazz ao Centro - Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, 2006". Não consegui descobrir se está alguma apresentação programada para Lisboa e arredores, mas, de qualquer modo, o livro já se encontra à venda e à espera de ser lido.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Alice

Através do blogue dedicado à literatura infantil e juvenil Alcameh, descobri que se encontra acessível, no site da British Library, o manuscrito que deu origem ao livro Alice no País das Maravilhas, com ilustrações de Lewis Carrol.

Mais informação

Ler o manuscrito

domingo, outubro 29, 2006

Colecção Pássaro Livre


Havia na minha escola primária uma pequena biblioteca onde éramos levados todas as semanas para escolher um livro que levávamos connosco e líamos em casa. Algumas das crianças, não vale a pena estar com idealismos face ao passado, liam só aquele livro que levavam da escola, mas pelo menos aquele, que podiam escolher entre os outros, liam. Era assim nos primeiros anos de escola, mas isto já foi há tanto tempo que não me lembro de todos os livros que havia na escola. Não eram muitos, devo dizer, até porque quando falo da «biblioteca» da escola, falo, na verdade, de um armário com prateleiras cheias de livros e nada mais. Mas era, ainda assim, uma biblioteca: era um lugar onde os livros eram partilhados e onde a leitura era incentivada, enquanto escolha livre. Era, portanto, uma biblioteca.

Dizia que não me lembro de todos os livros que a escola tinha, mas lembro-me de dois em particular, porque eram escolhas frequentes que eu lia e relia vezes sem conta: O Coelho Barafunda e O Romance da Raposa. O primeiro livro que escolhi (embora não tenha sido o primeiro que li), e disto lembro-me muito bem, foi O Coelho Barafunda, de José Barata Moura, com ilustrações de Luiz Duran. Abrindo com o tão conhecido Fungágá da Bicharada, são contadas neste livro várias histórias, em verso, sobre animais que afinal são muito parecidos com as pessoas, para o bem e para o mal. Li-o e reli-o, mas nunca o consegui encontrar, mais tarde, em nenhuma livraria.

O livro faz parte de uma colecção intitulada Pássaro Livre, editada pela Livros Horizonte, durante os anos 70 e 80. Não sei se a editora ainda mantém esta colecção (não consegui descobrir no site), mas se de facto ainda existir, naturalmente, não terá o mesmo aspecto gráfico que os livros publicados há quase três décadas.

Depois de muitos anos à procura deste livro, e de outros desta colecção, voltei a encontrar, o ano passado, na montra de uma livraria em Lisboa, de que infelizmente não me lembro o nome, vários títulos que de imediato reconheci. Consegui finalmente voltar a levar para casa O Coelho Barafunda, uma 2.ª edição de 1979, com a espantosa tiragem de 14 100 exemplares, e decidi ler também O senhor-que-naõ-sabia-contar-histórias, de Carlos Pinhão, com ilustrações de Ana Duarte de Almeida. Já este ano, encontrei novamente a colecção numa feira de livros novos e usados no Mercado da Ribeira. A escolha foi, desta feita, para Helena e a Cotovia, um verdadeiro manual de educação ambiental em forma de conto infantil, escrito por Sidónio Muralha e ilustrado por Fernando Lemos. Se os exemplares que vi eram usados ou não, não sei, mas as folhas amarelecidas dizem-me que, pelo menos, estiveram guardados durante muito tempo, o que é pena.

Passando os olhos apenas pelas capas, encontramos nomes como Sidónio Muralha, Manuela Bacelar, ou Matilde Rosa Araújo, entre muitos outros que seriam, por si só, um indicativo da qualidade desta colecção dedicada às crianças. Para além do valor afectivo que tem para mim e do valor literário e didáctico que podemos apreender pela sua leitura, esta colecção é também, por vezes, reflexo da época em que foi publicada. Extraordinariamente, no entanto, a marca do tempo da escrita não transforma estas obras em peças de museu que apenas servem como documento ou curiosidade. Longe disso. O valor didáctico e literário que lhes atribuo é válido hoje e, estou certa, será válido no futuro. As histórias contadas nestes livros são um convite à liberdade criativa e ao exercício do espírito crítico, objectivo que, na minha opinião, é mais do que nunca relevante na literatura infantil se não quisermos que os valores estatísticos relativos à leitura no nosso país sejam cada vez mais baixos. Mas este é um assunto que daria uma longa, longa história, não tanto para crianças, mas para os pais.

Livros da colecção Pássaro Livre aqui mencionados:

José Barata Moura, O Coelho Barafunda, ilustrações de Luiz Duran, 2.ª edição, Livros Horizonte, 1979, Lisboa.

Carlos Pinhão, O senhor-que-não-sabia-contar-histórias, ilustrações de Ana Duarte de Almeida, Livros Horizonte, 1984, Lisboa.

Sidónio Muralha, Helena e a Cotovia, ilustrações de Fernando Lemos, Livros Horizonte, 1979, Lisboa.

terça-feira, outubro 24, 2006

O anti-turista


O livro foi-me recomendado há algum tempo. Passo a explicar melhor como veio ele parar à minha estante: mencionei eu, num texto escrito num outro blogue, o Notes From a Small Island, de Bill Bryson (em português, Crónicas de uma pequena ilha, editado pela Quetzal. Se usei o título em inglês é apenas porque foi em inglês que o li), como leitura obrigatória para quem gostasse de livros de viagens. Como comentário ao post, tive também direito a uma sugestão — Lost Cosmonaut, de Daniel Kalder. Depois de ter seguido o concelho e de ter lido o livro, tenho que, antes de mais, agradecer ao José Carlos por me recomendar a sua leitura.

Feitos a apresentação do livro e os devidos agradecimentos, a primeira afirmação, feita assim, taxativamente, é a de que este é o livro de viagens mais divertido que já li e o mais original, por deitar por terra todas as ideias feitas que possamos ter acerca da literatura de viagens. Em primeiro lugar, será conveniente contextualizá-lo quanto ao percurso que o autor nos oferece: Rússia. No entanto, não se trata da Rússia dos guias turísticos. Nada de Moscovo, nada de S. Petersburgo. Na verdade, este é um roteiro assente sobre os princípios do anti-turismo, que, aliás, abrem o livro, para que o leitor tenha, desde logo, uma ideia (uma pequena ideia, porque nada poderia tirar o efeito surpresa que só acaba com o próprio livro) de que tipo de viagem lhe é oferecido. Não resisto a transcrever aqui alguns desses princípios:

The anti-tourist does not visit places that are in any way desirable.

The anti-tourist travels at the wrong time of the year.

The anti-tourist is interested only in hidden histories, in delightful obscurities, in bad art.

The anti-tourist loves truth, but he is also partial to lies. Especially his own.

Se tiverem curiosidade em saber quais são as restantes regras do anti-turismo, podem consultar o site dedicado ao autor e a este seu primeiro livro, ou, ideia que me parece melhor, ler o Lost Cosmonaut. Falemos da primeira das regras transcritas, que não podia ter sido mais levada à letra por kalder. Avisei já que, caso esperem ler sobre uma agradável visita a Moscovo, não é isso que vão encontrar. Pelo contrário, Daniel Kalder parece ter um talento único para escolher sítios ignorados, esquecidos e, claro está, perdidos no meio de nenhures. Se não lesse este livro saberia que Calmúquia (em inglês, Kalmykia) é governada por Kirsan Ilumzhinov, presidente com o hábito peculiar de espalhar outdoors pelas ruas com fotografias suas tiradas ao lado de pessoas famosas, que tanto podem ser o Dalai Lama como o Chuck Norris? Saberia, sequer, alguma coisa sobre a vida em Mari El? Claro que não, obviamente permaneceria na ignorância até hoje.

Por outro lado, se o anti-turista apenas se interessa por factos obscuros acerca dos lugares por ele escolhidos, nada poderia exemplificar melhor o cumprimento desse princípio do que os capítulos dedicados à história, cultura e religião das repúblicas incluídas no itinerário de Kalder. Episódios como o relato da tentativa, falhada, de tentar entrevistar o inventor da AK 47, em Udmurtia, asseguram-nos, do mesmo modo, que o autor é fiel à sua causa anti-turista. De acordo com o propósito do livro e da viagem estão também as fotografias que ilustram o percurso pouco convencional deste escocês, umas vezes mais perdido do que outras, pela Rússia.

Mas, devo confessar, a declaração que mais interesse me suscita é a última, por ser um desafio colocado a quem lê. Da imaginação bastante fértil de Kalder, incentivada pela possibilidade (talvez dever) de, habilmente, fazer da verdade e da mentira dois instrumentos igualmente válidos de escrita, resulta, afinal, um livro que, ao invés de criar desconfiança, cria cumplicidade entre escritor e leitor.


Edição utilizada:
Daniel Kalder, Lost Cosmonaut, Faber and Faber, London, 2006.
(O livro não foi ainda traduzido para português.)
Disponível aqui ou aqui.

sábado, outubro 21, 2006

Da Suécia



Da autora sueca, vencedora do Prémio Nobel da Literatura em 1909, Selma Lagerlöf, foram já traduzidos para português os livros O Cocheiro da Morte, pela Editora Estampa, O Livro das Lendas, pela Editora Livros do Brasil, e, provavelmente o seu livro mais conhecido entre nós, A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson Através da Suécia, pela Relógio D’Água.
Chega agora às livrarias portuguesas, com a chancela da Cavalo de Ferro, A Saga de Gösta Berling, romance datado de 1891. A tradução desta obra de Selma Lagërlof ficou a cargo de Inga Gullander, a mesma tradutora de Herman, do norueguês Lars Saabye Christensen, obra publicada também pela Cavalo de Ferro, em 2004.
Uma vez que ainda não tive oportunidade de ler este livro, não poderei falar sobre ele. Transcrevo apenas parte do que pode ser lido no site da editora sobre A Saga de Gösta Berling.


Obra-prima da literatura europeia, escrito por Selma Lagerlöf, a primeira mulher a ganhar um prémio Nobel de literatura, este romance belíssimo cruza várias épocas e relatos que vão desde a lenda fantástica ao romance psicológico, da aventura histórica à fábula moral. Uma obra que segue a estrutura das sagas nórdicas e retoma de forma inteiramente original o tema do homem dividido entre o bem e o mal.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Notícia: Prémio Nobel da Literatura

O vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2006 é o escritor turco Orhan Pamuk. No site nobelprize.org encontrarão a biobliografia do autor, incluíndo a lista de títulos publicados em diversas línguas (turco, inglês, francês, alemão e sueco). Caso se queira ler a obra de Orhan Pamuk em português, a escolhas são bem mais limitadas (daí que possa ser útil consultar a lista de livros disponíveis em outras línguas), uma vez que apenas dois dos seus livros foram traduzidos para a nossa língua, ambos publicados pela editora Presença. Talvez surjam, entretanto, mais títulos em português, por conta da atribuição do Prémio Nobel a este autor.

Obras em Português:

A Cidadela Branca e Os Jardins da Memória


No site da Fnac encontram, para além das obras publicadas em português, outros títulos em inglês, francês e em espanhol. Podem também ler o primeiro capítulo de Os Jardins da Memória.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Livros insuspeitos

E-books, audiobooks... No meio de tantas reinvenções da leitura, não é difícil que alguns formatos passem despercebidos no meio da azáfama da busca pela novidade. Será que dispensamos tempo suficiente a manusear, a ver, a ler os livros que acompanham a música que ouvimos? Livros e música... Começo a aventurar-me em território pantanoso.
A edição de livros sobre música em Portugal é um assunto penoso. Sente-se mais a sua ausência do que a sua presença. Mas, sobre este assunto, não me quero alongar muito mais, por hoje. Ficará para uma próxima vez, escrito à luz de uma pesquisa em livrarias que ainda não tive oportunidade de fazer exactamente como eu quero, de forma demorada e meticulosa.

Perguntava eu se damos a devida atenção aos livros que acompanham a música que ouvimos. Penso, particularmente, em algumas colecções temáticas, que revelam um cuidadoso plano editorial no que diz respeito à selecção de conteúdos e, igualmente, no que diz respeito ao grafismo. Dois exemplos daquilo a que me refiro hoje são as colecções Let’s jazz e BD Jazz. Refiro estas duas colecções, cuja distribuição esteve a cargo de dois jornais, o Público e o Diário de Notícias, respectivamente, porque, sendo ambas um tributo à história do jazz, têm, no entanto, abordagens distintas. Por outro lado, sendo a componente musical talvez o apelativo mais forte para o público, especialmente no que diz respeito a Let’s Jazz, já que a BD Jazz poderá atrair não só os ouvintes de jazz, mas, também, os leitores de banda desenhada, é minha intenção enfatizar que o que está aqui em causa não é apenas a publicação de música mas, igualmente, de conteúdos sobre música.
BD Jazz, como fica, aliás, evidente pelo nome, alia a Banda Desenhada ao jazz. Em cada volume vemos a vida de um músico retratada através do trabalho conjunto de diversos argumentistas e ilustradores. Esta iniciativa com origem em França, onde é editada pela Nocturne, teve, em Portugal, três edições especiais com trabalhos inéditos de autores portugueses.
Quanto a Let’s Jazz, projecto da responsabilidade de José Duarte (autor que contraria a minha visão pessimista em relação à edição de livros sobre música no nosso país) em parceria com o Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Aveiro, é uma colecção com uma organização um pouco diferente. Neste caso, cada volume conta com um texto de um músico cujo trabalho o torna mais apto a falar sobre o papel de determinado instrumento ou músico na história do jazz. Para além da componente textual, existe, nesta colecção, uma forte componente visual, através da reprodução de documentos (fotografias, cartazes, capas de livros, etc.).

Muito embora estas colecções não sejam novidades editoriais e, certamente, sejam do conhecimento de todos, não deixei, mesmo assim, que isso me demovesse de escrever aqui sobre elas. A sua qualidade e o meu gosto pessoal o justificam. Queria, no entanto, realçar que não são os únicos bons exemplos, o que é o mesmo que dizer que não há livros insuspeitos, há, isso sim, livros que às vezes passam despercebidos por não serem pensados como tal.

domingo, setembro 24, 2006

«O Assalto»

O Assalto é, possivelmente, a obra de Harry Mulish mais conhecida fora do seu país natal, a Holanda. A este facto não é certamente alheia a adaptação desta obra ao cinema e o Óscar para melhor filme estrangeiro com que foi galadoardo em 1986. Publicado em 1982, a história de O Assalto começa em 1945, no último ano da 2.ª Guerra Mundial, dividindo-se em cinco episódios que correspondem a cinco fases da vida da personagem principal, Anton Steenwijk. Entre nós, o livro foi publicado em 1988 pela Caminho, na colecção «Uma Terra Sem Amos».

Os motivos que nos levam a escolher este ou aquele livro influenciam sempre, de alguma maneira, a leitura (ou leituras) que fazemos. Escolher um livro por acaso, ou porque nos foi recomendado por alguém tem repercussões na forma como lemos e naquilo que procuramos quando lemos. Quando li O Assalto pela primeira vez, escolhi-o com o objectivo de escrever sobre ele e, por isso, quando iniciei a leitura, fi-lo com toda a atenção virada para o que me poderia dar um bom tema de trabalho. O tema descobri-o antes de entrar no livro propriamente dito. Foi a partir da epígrafe que construí uma leitura, entre tantas outras possíveis, desta obra. Logo, a minha leitura foi, desde o início, orientada para a procura das relações que podiam ser estabelecidas (os pontos de aproximação, mas, também, os pontos de diferença) entre a epígrafe e o texto por ela introduzido. Ainda assim, e apesar de este tipo de leitura estar, em princípio, muito marcado pelo propósito utilitário que serve, devo dizer que a leitura não se tornou mais pobre por isso, muito pelo contrário, página a página me ia apercebendo de que o caminho que tinha decidido seguir fazia que a cada passo descobrisse certos pormenores que talvez me tivessem escapado numa leitura mais despreocupada.

A história de Anton Steenwijk cruza-se, neste livro, com a história da Holanda, muito embora esse cruzamento não se limite a um acontecimento histórico. A Guerra é, sem dúvida, o centro de tudo, ponto de partida e, simultaneamente, o tempo que a memória — do autor e das personagens por ele criadas — insiste em revisitar. Não obstante, outro ponto de contacto igualmente relevante, que podemos explorar, assenta na ideia de que a história, de um homem ou de um país, ficcional ou real, se constrói e progride no equilíbrio delicado entre o que é, por natureza, antagónico. A epígrafe de O Assalto, retirada de uma carta de Plínio, o Jovem, a décima sexta carta do livro VI, diz o seguinte: «Por toda a parte era já dia, mas aqui era noite; não, mais do que noite». Evidentemente, sabendo que o livro trata sobre a vida durante e depois da 2.ª Guerra Mundial, identificaremos a noite, imediatamente, como uma forma de retratar o tempo histórico sobre o qual se centra Mulisch. Porém, não me parece que tenha sido esse o único motivo que tenha levado o autor a escolher este passo da carta de Plínio. A frase, na verdade, encerra mais do que uma possibilidade estrita de relação com o tempo vivido pelas personagens do livro, no sentido em que introduz o jogo de antagonismos que é explorado ao longo da obra: «aqui» e «por toda a parte», «dia» e «noite», memória e esquecimento, acaso e destino, vida e morte, fragilidade e poder. A carta de Plínio em causa é endereçada a Tácito e tem como finalidade responder ao desejo expresso por este de obter mais informações sobre a morte do tio de Plínio, o Jovem. Esta morte é apresentada pelo remetente da carta como uma consequência da actividade vulcânica do Vesúvio em 79 a.C. Portanto, o que vamos encontrar na carta é a descrição de erupção do Vesúvio. Menciono este facto porque o que Mulisch faz ao longo do seu livro é, de certo modo, testar a curiosidade do leitor. São inúmeras as referências ao longo da obra, em primeiro lugar, à antiguidade clássica, principalmente na figura do pai de Anton, e, em segundo lugar, a elementos comuns ao fenómeno descrito na carta de Plínio: cinza, fogo, poeira, explosões, etc. Mas não é apenas dentro de um quadro de semelhanças que Mulisch joga. As diferenças são também evidenciadas, e é na necessidade de comparação entre o que é comum e o que difere que o leitor é convidado a debruçar-se.

O Assalto é um livro humano, mas não deixa igualmente de ser um desafio ao nosso lado mais racional, porque, não direi que exige, mas pede um leitor atento e curioso. Ao ler, rapidamente percebemos que nenhuma escolha do escritor é inocente. Cada palavra, cada acção narrada, cada objecto descrito num certo ponto do livro podem-nos levar a reler páginas que já ficaram para trás, daí que se possa afirmar que a importância da memória não reside apenas na narrativa, ela é também transportada para o acto de ler.

Edição utilizada:
Harry Mulisch, O Assalto, tradução de Maria Alice Vila Fabião, Editorial Caminho, Lisboa, 1988.

No site da Caminho é dada a informação de que este livro se encontra esgotado. No entanto, não se encontra desaparecido e está disponível aqui


Edição que encontrei com a carta de Plínio de onde foi retirada a epígrafe:

Pline Le Jeune, Lettres, tome deuxième, Libraire Garnier Frères, Paris, 1931.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Notícia: Workshop Infantil

Porque é na infância que ganhamos gosto pelos livros, vai ter lugar no próximo dia 16 de Setembro (sábado), pelas 16h, em Linda-a-Velha, um Workshop destinado a crianças com o tema «Proteger os meus livros». Este projecto, da responsabilidade de Inês Rosa e promovido pela Bulhosa, tem como principal objectivo ensinar às crianças que proteger os seus livros pode ser uma actividade criativa e lúdica. Para mais informações e para poderem conhecer outros trabalhos de Inês Rosa, visitem o blogue Tintas.aos.montes.

domingo, setembro 10, 2006

O livro na estante

Há livros que vemos há tanto tempo na estante de nossa casa, livros mais velhos do que nós, que acabam por passar despercebidos, como se a sua presença constante os tornasse, lastimavelmente, invisíveis. Um desses livros era, na estante de minha casa, um volume dedicado a Soeiro Pereira Gomes, um livro castanho com o título Obras Completas de Soeiro Pereira Gomes legível na lombada. Um dia, em conversa com uma amiga (obrigada, Inês), fala-me ela de um dos seus livros preferidos, Esteiros. Pergunta-me se conheço, se já li e eu digo-lhe (vem-me à cabeça a tal lombada castanha na estante) que conheço, mas que nunca li. Depois de ouvir o entusiasmo com que me falava do livro, fiquei a pensar porque é que nunca tinha lido aquele livro que sempre ali esteve ao alcance da minha mão. Às vezes percorremos corredores de livrarias à procura de livros que, no momento, são para nós absolutamente essenciais e, afinal, temos em casa outros que hão-de ser para sempre essenciais, sem que o adivinhemos.

Redimi-me da minha falta e li Esteiros. Agora, é também uma das minhas preferidas, a história dos «moços que parecem homens e nunca foram meninos». Livro que segue a mesma divisão que a vida das suas personagens, condicionada pelos trabalhos de cada estação do ano, Esteiros conta com agilidade, a mesma que os meninos demonstravam quando roubavam laranjas das quintas, as peripécias que a miséria sem remédio pode trazer. Falo em miséria, mas já me arrependo de o ter feito, porque a palavra miséria ensombra a beleza do livro, nas suas descrições, na capacidade de dar fala aos homens e mulheres que nada podiam fazer senão esperar, não em posição medidativa, mas a trabalhar. Aí está uma grande diferença entre os Castros e as Marias do Bote, uns esperam a meditar na companhia de um pensativo cigarro, os outros esperam a trabalhar e a sonhar com um despertador que os deixe dormir sem sobressaltos, até que seja hora de ir trabalhar novamente.

Tendo como paisagem de fundo uma terra à beira-Tejo, de que os turistas de pé calçado vinham apreciar a beleza em tempo de cheias e de morte, e tendo como fundo da paisagem os esteiros, Soeiro Pereira Gomes conta um ano na vida de um grupo de meninos crescidos antes do tempo. No entanto, o que julgo ser mais extraordinário nesta obra é a capacidade de uma narrativa tão despretensiosa nos fazer esquecer, desde a primeira página, todo o saber enciclopédico que possamos ter acumulado ao longo dos anos sobre neo-realismo e sobre a literatura da primeira metade do século xx. Tudo isso se esbate perante a possibilidade de conhecer as vidas literárias de gente a sério.


Edição utilizada:

Soeiro Pereira Gomes, Esteiros, com ilustrações de Álvaro Cunhal, in Obras Completas de Soeiro Pereira Gomes, Edições Avante, Lisboa, 1979.

Outras edições:

domingo, setembro 03, 2006

A antologia



Publicada pela primeira vez em 1963, pela editora Minotauro, a antologia Surrealismo/Abjeccionismo, organizada por Mário Cesariny, reúne textos (sejam eles feitos de palavras, de traços ou de imagens) de nomes que marcaram a arte e a literatura feitas em Portugal no século xx.

Apesar do título dado à antologia, nela não encontramos exclusivamente autores ligados ou associados de forma mais directa ao Surrealismo português. Assim o provam a inclusão de um conto de Irene Lisboa, ou a presença de Almada Negreiros entre os nomes escolhidos por Mário Cesariny. Julgo que, por isso, será justo pensar que a escolha dos nomes a figurar na antologia não terá sido feita em função da militância em relação ao movimento surrealista, até porque o termo ‘militância’ é avesso à liberdade criadora (ou destruidora) que marca e é condição sem a qual não poderíamos sequer falar de Surrealismo.

O que este volume contém é, isso sim, um conjunto de textos que servem de introdução, porque é impossível esgotar tudo o que foi feito sobre e no Surrealismo num só livro, ao pensamento e à criação surrealistas. Nas páginas de Surrealismo/Abjeccionismo encontramos a relação do Surrealismo com o passado e com os seus contemporâneos, nem sempre pacífica, se pensarmos no Neo-Realismo (leia-se, a este propósito, o texto que abre esta antologia, de Afonso Cautela). Mais importante que tudo, vemos que, no caos destruidor, há uma coesão que nos permite hoje falar do Surrealismo português enquanto movimento que requer uma reflexão sobre a sua natureza e sobre a produção artística dos seus intervenientes. Mas será talvez nas palavras destes que encontramos o melhor manual de aprendizagem:

Diga-se, apesar disso: — Enriquecimento não no sentido de se construir, mas no de se destruir, precisamente, não me enganei — DESTRUIR. Deixemos a dialéctica no bolso dos fáceis, explica mas não realiza, desvia o conhecimento, contrai. Destruir é construir? Engano: destruir é realizar-se outro objecto ou noutro mas nunca construi-lo.
(António Maria Lisboa, «Certos outros sinais»)

Actualmente, este livro encontra-se disponível em edição fac-similada do original de 1963, publicada pela editora Salamandra.

Surrealismo/Abjeccionismo, antologia seleccionada por Mário Cesariny de Vasconcelos, Edições Salamandra, Lisboa, 1992.

Disponível aqui

quinta-feira, agosto 24, 2006

«Ler e escrever. Ler e reler. Ler e lembrar.»

«Ler e escrever. Ler e reler. Ler e lembrar.» Este era o mote de uma exposição organizada em 2001 e subordinada ao tema da literatura no feminino. «Mulheres do Século XX: 101 Livros», assim se chamava a exposição e o livro-catálogo publicado no âmbito desta iniciativa. A exposição, que esteve patente no Padrão dos Descobrimentos, tinha como principal atractivo uma instalação que convidava os visitantes a sentarem-se e a folhearem, a lerem, a descobrirem livros assinados por nomes, nacionais e estrangeiros, representativos da escrita e do pensamento femininos do século XX.
Foi ao terminar a minha visita a esta exposição que reparei nos livros associados a este projecto que se encontravam à venda no local: duas edições fac-similadas de duas conferências, Virginia Woolf — O Problema da Mulher nas Letras, de Manuela Porto, e Vidas que Foram Versos, de Teresa Leitão de Barros.

O texto de Manuela Porto, proferido na «Sociedade Nacional de Belas Artes» em 1947, foi editado pela Seara Nova nesse mesmo ano. Foi durante a «Exposição de Livros Escritos por Mulheres», organizada pelo Conselho Nacional de Mulheres Portuguesas (cuja presidente era, à altura, Maria Lamas), que Manuela Porto leu publicamente o seu ensaio. Centrado, em particular, na obra Um Quarto que Seja Seu, de Virginia Woolf, a escritora portuguesa analisa com um olhar crítico as questões colocadas por Woolf.
Muito embora não esconda a forte impressão que a obra da autora inglesa lhe causou desde a primeira leitura, Manuela Porto consegue evitar o 'texto-elogio' e fazer um texto crítico. A questão fundamental colocada por Virginia Woolf, no livro aqui em causa, é exposta e retomada de forma muito clara por Manuela Porto: «... antes de mais nada o problema da mulher é um problema económico, de todo sempre o foi.» De facto, era-o na Inglaterra de Virginia Woolf e continuava a sê-lo no Portugal de Manuela Porto. A mulher, durante séculos, sem meios próprios, sem direito à posse, mantida no interior da casa, presa à condição quase irrevogável da maternidade, não tinha possibilidade de reunir as condições necessárias para uma vida dedicada à arte. As marcas desse passado são ainda visíveis ao percorrermos as histórias da literatura, da pintura, e de todas as outras artes.

Vidas que Foram Versos, conferência datada de 1930, é uma retrospectiva das mais importantes figuras femininas retratadas na literatura portuguesa. Mais uma vez, foi Maria Lamas quem promoveu o evento que acolheu a conferência de Teresa Leitão de Barros, o certame «Mulheres Portuguesas». Começando a sua análise com a poesia trovadoresca e chegando até ao século XIX, Teresa Leitão de Barros reflecte sobre o papel, ou, melhor dito, os papéis que foram sendo atribuídos à mulher ao longo da história da nossa literatura. Nas páginas de Teresa Leitão de Barros encontramos diferentes autores, diferentes correntes literárias e, naturalmente, diferentes construções do carácter e da figura femininos.
Em diálogo com o livro de Manuela Porto, este Vidas que Foram Versos permite chegar a uma irónica conclusão: pese embora o facto de as mulheres terem percorrido um longo caminho para garantir o seu lugar na literatura enquanto agentes, o seu lugar enquanto objecto sempre esteve garantido pelo espantoso número de obras escritas acerca da mulher e pela presença constante da mulher na literatura. Nos livros, elas eram adoradas ou odiadas, superiores ou inferiores, mas nunca estavam em pé de igualdade com a figura demiúrgica do poeta.

Manuela Porto, Virginia Woolf — O Problema da Mulher nas Letras (edição fac-similada), Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, 2001.

Teresa Leitão de Barros, Vidas que Foram Versos (edição fac-similada), Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, 2001.

Virginia Woolf, Um Quarto que Seja Seu, Vega, 3ª edição, s.l., 1996.

Nova edição:

Virginia Woolf, Um Quarto Só para Si, tradução e prefácio de Maria de Lourdes Guimarães, Relógio D’Água.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Pedro Alecrim


António Mota, autor de uma já extensa e reconhecida obra dedicada aos leitores mais jovens, publicou Pedro Alecrim, romance vencedor do Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças em 1990.

Num Pragal ainda rural, Pedro Alecrim vive com a sua família. Todos os dias, Pedro vai para a escola, brinca e ajuda os pais no trabalho do campo. Não sendo um aluno brilhante, Pedro Alecrim gosta da escola, embora tenha pena que os professores não lhe expliquem porque é que as coisas são como são e que nem tudo o que aprenda lhe seja útil na sua vida fora da escola.
É no equilíbrio entre a ingenuidade e os sonhos de criança e a percepção, sempre latente, de que a vida reserva mais problemas e dificuldades do que uma longa caminhada para a escola em dia de temporal que vive Pedro Alecrim.

Sem cair numa escrita de pendor moralista, este livro conta, com simplicidade (a simplicidade de Pedro), uma história que nos faz reflectir sobre o tempo e sobre a necessidade de não desperdiçar aquilo que nos é dado, quando nos é dado (ao contrário do que faziam os meninos mimados na cantina da escola, diriam Pedro e o seu amigo Nicolau). António Mota consegue, sem perder coesão, contar a crianças e a adultos a história de um menino que viu a sua vida mudar depois da morte do pai e que soube lidar com novas e pesadas responsabilidades com uma naturalidade que talvez estivesse fora do alcance de um adulto.

Professor há vários anos, António Mota conhece bem a linguagem e o universo da literatura infantil e juvenil, sabendo, por isso, que é um erro subestimar a capacidade que as crianças têm de compreender as mensagens que os seus livros encerram. Este livro, embora especialmente destinado a um público mais jovem, pode e deve ser lido por todos, porque às vezes é muito fácil esquecermos aquilo que temos e aquilo que queremos.



Edição utilizada:
António Mota, Pedro Alecrim, ilustrações de Vítor Simões, 4.ª edição, Edinter, s.l., s.d.

Actualmente, Pedro Alecrim, bem como a restante obra de António Mota, é editado pela Gailivro.

quinta-feira, agosto 17, 2006

A edição de teatro: «Repertório Básico de Teatro»


O teatro não é um género literário preferido por muitos, o que aliás se pode comprovar ao percorrer o olhar por alguns estudos já realizados sobre os hábitos de leitura dos portugueses. Consequentemente, o teatro, a par de outros, como a poesia, não é um segmento rentável para as editoras nacionais. Facilmente se percebe, assim, que apostar na edição de textos desta natureza é um risco e que uma pequena editora não se pode dar ao luxo de pagar para ver. Tendo em conta que o panorama editorial português é maioritariamente constituído por pequenas e médias empresas, não será de estranhar que, quando comparado com outros segmentos, se publique pouco teatro no nosso país.

Apesar deste cenário pouco optimista, existem exemplos (bons exemplos) de editoras portuguesas que incluem, de forma consistente, o teatro nas suas linhas editoriais, como é o caso, apenas para referir algumas das mais conhecidas, da Relógio d’Água, da Dom Quixote ou da Cotovia, entre outras. Hoje, porém, a minha atenção vai para a colecção «Repertório Básico de Teatro» que faz parte do catálogo editorial da Colibri. Trata-se de uma coedição da Colibri com o Instituto Português das Artes e do Espectáculo, que, actualmente, e depois de uma fusão em 2003 com o Instituto de Arte Contemporânea, se denomina Instituto das Artes, e com a Delegação Regional da Cultura do Alentejo. A publicação desta colecção composta por dezasseis volumes iniciou-se em 1999 e abrange nomes absolutamente indispensáveis para compreender a história da literatura e, naturalmente, a história do teatro. Desde Plauto até Brecht, passando por Gil Vicente ou Molière, é traçado o percurso do teatro desde a antiguidade clássica até ao século xx. Para além do evidente valor literário e cultural destas edições, existe ainda uma particularidade que importa referir. Sendo, pelo menos em potência, uma colecção de interesse para o público em geral, ela dirige-se, não obstante, a um tipo de leitor em especial. Tal como é referido no prefácio que acompanha cada volume, este conjunto de textos é destinado a todos aqueles que se dedicam ao teatro amador. Como seria de esperar, ao público alvo não é alheia a concepção e organização de cada volume, uma vez que o texto dramático é acompanhado por uma nota introdutória que permite ao leitor, em primeiro lugar, contextualizar no tempo e no espaço a peça que se seguirá. Por outro lado, são dadas indicações e sugestões destinadas a encenadores e actores que se dediquem, justamente, ao teatro amador. Se é verdade que o teatro não tem tantos leitores como seria desejável, não é menos verdade que por todo o país existem grupos de teatro amador que saberão tirar o melhor partido de iniciativas como esta.

Como já referi, o primeiro título desta colecção foi editado em 1999, tendo sido publicados, até 2001, doze dos dezasseis títulos previstos. Até à data, e segundo a informação disponível no site da editora, não foram publicados os restantes quatro livros. Uma vez que já se passaram cinco anos desde a publicação dos títulos disponíveis, não será muito fácil encontrá-los nas livrarias. A melhor opção para quem estiver interessado em lê-los será encomendá-los no site da editora, dirigir-se a uma das livrarias da Colibri ou esperar por uma das cada vez mais frequentes feiras do livro que se vão organizando ao longo de todo o ano e um pouco por todo o lado, onde, se procurarmos bem, acabamos sempre por encontrar livros que nos interessam.


Lista de títulos:

1. Plauto, O Soldado Fanfarrão.
2. Anónimo francês do século xv, Farsa de Mestre Pathelin.
3. Gil Vicente, Quem Tem Farelos?
4. Ruzante, Falatório de Ruzante de Volta da Guerra.
5. Cervantes, O Velho Ciumento.
6. Molière, Esganarelo ou o Cornudo Imaginário.
7. Marivaux, O Preconceito Vencido.
8. Carlo Goldoni, Uma das Últimas Tardes de Carnaval.
9. Heinrich Von Kleist, A Bilha Quebrada.
10. Prosper Merimée, O Céu e o Inferno.
11. Almeida Garrett, Falar Verdade a Mentir.
12. Anton Tchekov, (texto a escolher).*
13. Raúl Brandão, O Doido e a Morte.
14. Brecht, A excepção e a regra.*
15. Sean O'Casey, O fim do princípio.*
16. Tankred Dorst, A grande imprecação diante das muralhas da cidade.*


http://www.edi-colibri.pt/teatro.html


* Títulos ainda não publicados

quarta-feira, agosto 16, 2006

Olho da letra

Olho da letra: artes gráficas. Desenho da letra em relevo, na parte superior do tipo, que se imprime no papel depois de receber tinta.


(Definição retirada de Dicionário Electrónico Houaiss da Língua Portuguesa, 2002.)