
A nova Ler já está nas bancas.
livros e leituras
É também a primeira tradução feita directamente do alemão, por João Barrento, com a chancela da Dom Quixote, a editora que está a publicar a obra completa daquele romancista austríaco, falecido em 1942.
A apresentação dos livros decorrerá no Goethe Institut, onde dois actores profissionais irão ler alguns excertos do romance.(Nos anos setenta, saiu em Portugal uma tradução do mesmo romance, mas feita a partir da versão francesa e que não incluía o terceiro volume, publicado já depois da morte do escritor).
«O homem sem qualidades», que ocupou Musil durante os últimos quinze anos da sua vida, é hoje considerado uma das obras mais influentes da literatura moderna, ao lado de «Ulisses», de James Joyce, e de «À procura do tempo perdido», de Marcel Proust.Segundo o tradutor, o terceiro volume do romance deverá ser publicado no início de 2009.
«Foi uma das maiores e mais exigentes traduções que fiz», disse Joao Barrento, um dos mais prestigiados tradutores portugueses de alemao e que assinou, entre outras, a tradução de «Fausto» de Goethe.
Terceiro livro publicado de Patrícia Portela, Odília ou história das musas confusas do cérebro de Patrícia Portela esquiva-se a qualquer tentativa de arrumação em géneros. Talvez por isso seja tão difícil prever em que secção das livrarias o vamos encontrar.
O texto, acompanhado das ilustrações da própria autora, é exactamente o que encontramos representado nas primeiras imagens que antecedem a história de Odília – um novelo. Um novelo que se estende para fora do texto e que, assim, desafia a fronteira entre obra e livro, entre ideia e objecto.
Justamente pela sobreposição de imagem e palavra que abarca o objecto que serve de suporte físico à história destas musas confusas, parece que, mais do que uma simples história, estamos perante uma narrativa encenada, servindo a capa de cortina ao que iremos assistir. Aliás, facilmente associamos a própria linguagem de Patrícia Portela ao teatro, área a que a autora dedica o seu trabalho há já vários anos.
Texto e livro são, portanto, uma unidade que não é estanque, que não encontra limites nas margens da literatura, mas antes a invade, através da inclusão no processo criativo de estratégias que visam incorporar o exterior. Neste ponto não podem passar despercebidas as notas de autor, de tradutor e de editor que Patrícia Portela cria como parte integrante da narrativa. Do mesmo modo, não podemos esquecer as pretensas linhas de leitura pelas quais a autora guia o leitor e que mais não são do que formas de chamar a atenção para a maleabilidade do objecto escrito, das possibilidades que oferece e que extravasam a sequência ditada no momento da criação.
Odília é também um emaranhado de ideias, de apontamentos pessoais e sempre algo encriptados de que Patrícia Portela mistura os fios numa composição que oferece tanto quanto oculta, sendo o seu carácter lacónico um convite a uma interpretação única e pessoal.
Por outro lado, uma das marcas deste texto é sem dúvida o facto de ser uma narrativa em que tempo e espaço se esbatem (mais uma vez, também aqui se anulam fronteiras) e que claramente se compraz na volubilidade do passado e do presente, que ao invés de nos servirem de guias, reforçam o poder demiúrgico do narrador (que aqui se confunde intrinsecamente com a figura da autora, por ser tão evidente o carácter pessoal das páginas que lemos). As questões quotidianas do nosso tempo invadem a Grécia Antiga e a sua mitologia, ou será o contrário? Será que essa mitologia tem uma origem mas o seu poder metafórico não é datado? Será o seu uso meramente instrumental?
No meio de tal novelo (o sonho de Odília) a estabilidade reside na repetição que baliza a narrativa. Esta repetição textual poderia deitar por terra a ideia de infinitude, mas a circularidade da história e da memória garante que assim não seja. Nunca vemos o fim do novelo porque o seu fio, tal como a colcha de Penélope, deve ser enrolado e desmanchado ad aeternum, ele prolonga-se para além das páginas do livro.