quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Na escola




O livro de que falo hoje não chegou às leituras em progresso, porque me foi dado hoje e lido entre aulas. Mas talvez deva explicar melhor o contexto em que foi feita esta leitura. Há mais ou menos uma semana atrás, lançaram-me um desafio na escola onde dou aulas de música. Fui informada de que todos os anos, por altura da Páscoa, se realiza um encontro entre os alunos da escola e escritores convidados para falarem da sua obra e, também, para assistirem a uma interpretação de um dos seus livros. Ora, precisamente, o desafio que me foi colocado foi preparar com os meus alunos uma pequena encenação, envolvendo, claro, a disciplina que lecciono para dramatizar a história que terei de adaptar para o efeito. Prontamente, sem pensar duas vezes, aceitei a tarefa com entusiasmo. Julgo que o incentivo à leitura aliado ao estímulo da criatividade das crianças, que me parece, às vezes, precisar de ser espicaçada (quando se lê pouco o nosso cérebro torna-se preguiçoso), deve ser uma constante no ensino e na educação, na escola e em casa.

O livro foi-me entregue de manhã e a curiosidade não me deixou chegar a casa com o livro por ler. Memórias de um cavalinho de pau, de Alexandre Parafita, foi publicado pela Texto Editores, pertencendo a uma colecção lançada no final do ano passado intitulada Colecção de Literatura Infantil Júnior. A edição desta colecção, segundo se pode ler no site da Texto Editores, tem como objectivo responder às orientações do Plano Nacional de Leitura, sendo os livros agrupados em três níveis, de acordo com princípios didácticos relacionados com a idade e o grau de escolaridade dos leitores. Importa também dizer que os títulos pertencentes a esta colecção são assinados por autores de mérito reconhecido na literatura infantil: Alexandre Parafita, José Fanha, José Jorge Letria, Begoña Oro, Daniel Nesquens e Marta Fernández-Rañada.

Memórias de um cavalinho de pau conta a história de uma descoberta e será, penso eu, um texto que os meus alunos e eu muito gostaremos de recriar, esperando eu poder conduzir a sua curiosidade natural para que eles possam fazer as suas próprias descobertas.
Na casa do avô, no Alto Douro, um menino encontra um brinquedo cheio de histórias para contar e que o ajuda a compreender algo de que o menino ouvia o avô falar mas cujo significado desconhecia: as suas raízes. Este cavalo de pau, passado de geração em geração, é uma caixa de recordações de tempos passados e é, simultaneamente, um elo de ligação entre o passado e o presente, funcionando como a memória de algo que tão facilmente se pode perder no tempo. Afinal, é no passado que começa sempre a nossa história.
Paralelamente, esta narrativa é, igualmente, um esforço (bem sucedido, de resto) de reavivar as nossas raízes literárias, se posso dizer assim. Certos elementos escolhidos (a casa, ou o próprio o cavalo como símbolo do brinquedo tradicional), as ilustrações de Bruno Santos, as histórias contadas, ou até mesmo o simples facto de haver uma personagem que conta uma história a outra, vão certamente beber à nossa literatura de tradição oral. É fundamental não perder a sensibilidade para ensinar e para aprender através da passagem de um testemunho cultural tão importante como este.


2 comentários:

Inês Rosa disse...

Para quem nunca quis ser professora, considero que estás a fazer um excelente trabalho :)
Fico muito orgulhosa quando vejo pessoas tomarem iniciativas destas, pelo prazer de participar no crescimento e desenvolvimento de outras pessoas.
Jinhos*

P.S.: mais um livro para a minha colecção de livros infantis ;)

Aida Cardoso disse...

A partilha do gosto pela leitura é um desafio, mas um dos que mais gozo nos dá cumprir. Realmente eu não queria ser professora, tenho dificuldade em lidar com o desinteresse que infelizmente alguns alunos demonstram em relação a tudo, mas acho que não somos nós que devemos desanimar com isso. Pelo contrário, temos que trazer (puxar se for preciso) os alunos para o nosso lado.