sábado, março 24, 2007

Encontro com escritores II (23.03.2007)




Depois da visita de M. Carolina Pereira Rosa, foi a vez de Alexandre Parafita falar com os alunos das duas escolas básicas do agrupamento Sebastião da Gama e assistir ao resultado do trabalho que as crianças desenvolveram à volta da sua obra literária.

Alunos de todos os anos encontraram diferentes maneiras de se apropriarem dos textos de Alexandre Parafita. Se houve alunos que encenaram histórias que tinham lido, outros preferiram preparar uma entrevista ao autor, e, na parte que me tocou, duas turmas dedicaram-se a musicar um poema presente num dos livros. Não podendo falar pelo escritor, ainda assim arrisco dizer que este tipo de retorno do complexo trabalho de escrever será recompensador para quem se dedica à literatura infantil.

Para as crianças, foi motivo de orgulho oferecerem a sua visão das histórias que leram e fiquei particularmente contente ao ver o grande número de meninos que foram ouvir Alexandre Parafita com os seus livros debaixo do braço. À semelhança do que aconteceu com a turma que musicou um poema de M. Carolina Pereira Rosa, também os alunos que iriam cantar o poema do livro Memórias de um Cavalinho de Pau me perguntavam, todas as semanas, assim que chegavam à sala, se iam ensaiar «a canção do cavalinho». O empenho com que os meus alunos e, tenho a certeza, os alunos dos outros professores, trabalharam foi a melhor prova de que o que falta às vezes não é capacidade, mas sim interesse. Num mundo em que as crianças têm tantas coisas diferentes a requisitarem a sua atenção e em que a curiosidade pela novidade é substituída com uma rapidez estonteante, é bom saber que o livro é capaz de motivá-las desta maneira. A forma activa com que participaram, com que deram opiniões, com que se preocupavam para que tudo corresse bem vem mostrar que o que é preciso não é obrigar os meninos a ler, mas sim colocar a literatura ao alcance dos seus olhos e ensinar-lhes que os livros não são só de quem os escreve, são também de quem os lê.

Para crescer por dentro, dizia Alexandre Parafita aos que o ouviam, é preciso ler. Esta foi a mensagem mais importante que o escritor deixou a fermentar nas cabeças dos meninos presentes. Nós crescemos sempre por fora, mas para crescermos também por dentro, para não ficarmos ocos e vazios temos que ler, temos que aprender, continuava Alexandre Parafita. Como não podia deixar de ser, o investigador dedicado à nossa Literatura Oral e Tradicional fez ver aos alunos presentes que a ouvir também se pode aprender muito. Há histórias que só quem nunca pôde ler um livro nos sabe contar. A memória, a de cada um e a colectiva, é um instrumento precioso para continuarmos a crescer juntos.
Um dos aspectos que mais me chamou a atenção no discurso do escritor, e pelo qual o congratulo, foi o facto de não ter falado às crianças com excesso de eufemismos, ao explicar-lhes, através de exemplos de pessoas com que se foi cruzando ao longo da sua vida de professor, a importância de nos irmos cultivando pela leitura. Muitos adultos criam a ilusão de que as crianças não vivem no mesmo mundo dos crescidos, que não vêem as mesmas coisas que nós vemos. É importante explicar-lhes que nem sempre a vida nos traz coisas boas. Do mesmo modo, é fundamental fazer com que compreendam que são elas próprias que, hoje, podem começar a preparar aquilo que todos os pais querem para os filhos, «um futuro melhor». É preciso ter vontade de crescer por dentro.





Obras de Alexandre Parafita:
(Por ser bastante extensa a bibliografia deste autor, deixo aqui apenas alguns títulos)

Literatura infantil:
Uma Andorinha no Alpendre, Livraria Civilização Editora, 1994.
A Lenda da Princesa Marroquina, Europress, 1995.
O Segredo do Vale das Fontes, Europress, 1996.
Chovia Ouro no Bosque, Porto Editora, 1996.
O Último Gaiteiro, Europress, 1997.
As Três Touquinhas Brancas, Plátano Editora, 2000.
Branca Flor, o Príncipe e o Demónio, Edições Asa, 2001.
A Mala Vazia e algumas histórias de tradição oral, Ambar, 2003.
Bruxas, Feiticeiras e suas maroteiras, Texto Editores, 2003.
Diabos, diabritos e outros mafarricos, Texto Editores, 2003.

O Conselheiro do Rei e outras histórias de tradição oral, Impala, 2004.
Contos de animais com manhas de gente, Ambar, 2005.
Histórias de Natal Contadas em Verso, Âncora Editora, 2005.

Histórias de Arte e Manhas, Texto Editores, 2005.
Histórias a Rimar para ler e brincar, Texto Editores, 2006.
Memórias de um Cavalinho de Pau, Texto Editores, 2006.


Ensaio e literatura:
A Comunicação e a Literatura Popular, Plátano Editora, 1999.
O Maravilhoso Popular, Plátano Editora, 2001.
Antologia de Contos Populares, vol. I, Plátano Editora, 2001.
Antologia de Contos Populares, vol. II, Plátano Editora, 2002.
A Mitologia dos Mouros, Edições Gailivro, 2006.


2 comentários:

Inês Rosa disse...

Adorava ter assistido a tudo isso :)É uma pena que sempre que há coisas interessantes a acontecer, estejamos encafuados em casa sobrecarregados com trabalho (bom, sempre não, tu estiveste lá e participaste!).
Fico muito contente por ver o trabalho que tens desenvolvido com os teus alunos. Tu és um exemplo do que a minha mãe sempre me ensinou: "seja lá o que tenhamos para fazer, temos sempre de o fazer da melhor forma possível".
Sabes, eu acredito que um dia vamos estar as duas, juntas, a preparar eventos desses ;)

Aida Cardoso disse...

A tua mãe tem razão, até porque se não tentarmos fazer as coisas bem, nunca vamos gostar do que fazemos (seja lá o que for). Também tive pena que não tivesses assistido a este evento, mas, como dizes, um dia podemos estar a fazer mais do que assistir, podemos estar a promover iniciativas destas. É tudo uma questão de querer de de empenho. Que será, será...